Por Bianca Kirschner e Manoel Fernandes Neto
A plataforma Conexão Alimentar vai trazer matérias e depoimentos de famílias e pessoas que vivem a pandemia de coronavírus neste 2020.
Depois de mais de 8 meses de isolamento social, quais foram os maiores aprendizados e desafios das famílias com alérgicos alimentares?
O que surgiu de novo no relacionamento entre os membros? A partir de qual momento ocorreu a percepção da força do aprendizado nesse período?
Ou, ainda: ocorreu algum marco em relação a esse aprendizado?
Com essas questões que o Conexão Alimentar conversou com a Yordana, Adriana e Cibele. Três mães envolvidas integralmente com educação, afazeres, profissão e responsabilidades nesse período único da humanidade, com cada história, individual ou coletiva. Cada uma com seus entendimentos, sentimentos, vivências e mensagens.
“É um privilégio enorme poder acompanhar de tão perto essa rotina escolar do meu filho. Foi uma experiência e oportunidade únicas”, explica Cibele.
“Tivemos que aprender a respeitar mais os outros devido à convivência mais próxima”, esclarece Adriana.
“A mensagem é que após a tempestade vem a calmaria. Que é possível passar pelas dificuldades do isolamento com amor, paciência e dedicação ao que temos de maior valor”, revela Yordana.
Acompanhe a seguir os depoimentos na íntegra. Para termos essas inspirações que possibilitam reflexões sobre esses momentos.
Yordana Castanheira
Goiânia-GO
Em casa, somos quatro: pai, mãe, filha (5 anos) e avô (idoso). Minha filha é alérgica à proteína de leite de vaca (APLV).
Os desafios desse período foram muitos. Lidar com o medo e a ansiedade sem dúvida foi a maior dificuldade. Posso ressaltar a sobrecarga dos serviços domésticos e a novidade da educação infantil on-line. Outro grande desafio foi lidar com a ausência e a saudade dos familiares mais próximos, que também estavam isolados.
No relacionamento, tivemos que aprender a ter mais tolerância, mais empatia pelo momento que cada um estava passando. Apesar das dificuldades, surgiu um novo olhar sobre as necessidades individuais de cada um; surgiu também um espírito de equipe para melhor atravessar esse período tão difícil.
Passado o susto inicial com a necessidade do isolamento, arrisco dizer que após uns cinco meses pude perceber que as coisas começaram a ter um novo ritmo, uma certa ordem em meio ao caos.
A convivência familiar no isolamento é sem dúvida desafiadora, principalmente quando não se tem outras formas de lazer ao ar livre, com outras pessoas além do seu núcleo. A mensagem é que após a tempestade vem a calmaria. Que é possível passar pelas dificuldades do isolamento com amor, paciência e dedicação ao que temos de maior valor, que é a vida de cada um de nossos familiares, seja por perto ou a distância, cada um zelando pelo outro, seja com uma mensagem de positividade, com um telefonema de preocupação, e até mesmo com um abraço virtual, além das promessas de muita celebração da vida, quando essa pandemia acabar!
Adriana Costa Roriz
Goiania-GO
@adrianacosta.nutri
Minha família é pequena: somente eu, meu filho Ian Costa Castelo Branco de 9 anos e minha mãe (Iza Costa) de 78 anos.
Meu filho já teve alergia alimentar múltipla, mas no momento já se tornou tolerante. Portanto, como sou Nutricionista, acompanho muitas crianças alérgicas que estão vivenciando diversos momentos na pandemia.
Ao meu ver, a pandemia para as famílias de crianças alérgicas trouxe momentos de alívio e de tensão. Alívio porque a criança estando dentro de casa, que é um ambiente seguro na questão do controle dos alimentos, deixa a família mais tranquila. Portanto, se estiver na escola ou na casa de outras pessoas, a criança pode vir a consumir algum alimento alergênico ou com traços e apresentar algum sintoma. Mas, em contrapartida, vivenciar a pandemia é estressante para qualquer pessoa.
Acho que tivemos que aprender a respeitar mais os outros devido à convivência mais próxima. Portanto, tivemos que passar antes por alguns conflitos.
O período não teve somente um marco para a percepção do aprendizado, foram várias fases e cada uma delas muito marcantes.
Posso definir como uma mistura de sentimentos e aprendizados. O isolamento fez com que aprendêssemos a fazer quase tudo em casa: as tarefas domésticas, o trabalho, as aulas das crianças, o lazer e as atividades físicas.
Várias vezes, parei para pensar sobre o benefício da pandemia, pois poder fazer tudo sem sair de casa é muito mais confortável e seguro. Mas, ao mesmo tempo, muito monótono e solitário, e inúmeras vezes tive vontade de sair e encontrar pessoas queridas, mas acabava pensando melhor e resolvia ficar em casa.
Em relação à convivência familiar, a mensagem para as outras famílias é aprendermos a valorizar os momentos juntos, pois nunca tivemos a oportunidade de passarmos tanto tempo juntos. É isto é muito valioso!
Neste mundo de incertezas, acho que a pandemia nos ensinou a ser um pouco menos preocupados com o futuro já que neste momento temos que realmente viver um dia de cada vez!
Cibele Barbosa
São Paulo – SP
Escritora, autora do livro Quero Brigadeiro
@cinasbar
Mãe: Cibele. Pai: Daniel. Filho: Arthur, 4 anos, alérgico à proteína do leite de vaca (APLV).
Os desafios foram muitos: conciliar trabalho, aulas virtuais, cuidados com filho, casa; adicionando a isso sentimentos como medo, angústia e preocupação. Tivemos e temos dias exaustivos, mas tentamos manter sempre a fé e esperança.
Como aprendizado foi lindo de ver a escola literalmente entrando em nossa casa; é um privilégio enorme poder acompanhar de tão perto essa rotina escolar do meu filho. Foi uma experiência e oportunidade únicas.
Outros dois pontos importantes foram o autocuidado e o despertar. No autocuidado precisamos estar bem para cuidar do outro; e despertar para não vivermos a vida no automático e estarmos de fato no presente para que possamos valorizar as pequenas coisas.