Considerações sobre alergias mediadas por IgE e não mediadas por IgE

Por Bianca Kirschner

Durante anos, não sabia nada sobre a existência de alergias mediadas por IgE e não mediadas por IgE. Na minha experiência como mãe de alérgico, sempre achei que todas as reações eram imediatas, mediadas por IgE.

Nos EUA, pouco se falava sobre isso e foi somente no Brasil, conversando com outras famílias de alérgicos, participando de eventos e lendo, que fui aprendendo sobre esses diferentes tipos de alergias.

E sinceramente, parece que ainda pouco falamos sobre os não mediados! Minimizamos a existência deles! Eles não precisam carregar canetas de adrenalina, não precisam voar pro hospital depois de ingerir o alérgeno, mas quais os impactos sócio emocionais desses alérgicos e seus familiares?

As alergias não mediadas por IgE são tardias e ocorrem mais de 2 horas a 2 dias após a ingestão de um determinado alimento. Elas ainda são alergias, mas diferentes células do sistema imunológico estão envolvidas (não as células IgE). Elas são mais difíceis de diagnosticar do que as alergias do tipo imediato. O exemplo mais comum é a proctite (o famoso sangue nas fezes), mas a enteropatia (diarreia sem sangue, desidratação, perda de peso) induzida por proteína alimentar e a enterocolite (náuseas, vômitos incontroláveis podendo chegar a choque por desidratação- esse é o FPIES) induzida por proteína alimentar também podem ocorrer.

Infelizmente não há exames para ajudar no diagnóstico desse tipo de alergia – a única maneira de diagnosticar esse tipo de alergia é com a ajuda de um médico que irá eliminar o alimento suspeito, verificar a melhora dos sintomas e reintroduzir o alimento suspeito para confirmar se os sintomas retornam.

Mun Cho em carta aberta divulgada no site The Mighty e posteriormente pela FARE para todos os profissionais da saúde sobre suas experiência como nutricionista e mãe de filhos alérgicos mediados e não mediados por IgE, cita:

“Rotular alergia ao leite não IgE como intolerância dá uma falsa impressão de que essas crianças podem tolerar traços de leite e minimiza o fator de má absorção. E apesar de ser uma alergia alimentar não fatal, os pais precisam tomar medidas para evitar o alérgeno, semelhante aos que vivem com uma alergia ao leite IgE.

Outra alergia alimentar não IgE que não é frequentemente discutida é a FPIES, ou enterocolite induzida por proteína alimentar. Esta é uma alergia alimentar rara que pode envolver vários alimentos como gatilhos. Na FPIES aguda, os sintomas incluem vômitos que podem levar à desidratação extrema e choque. Ao contrário das reações anafiláticas típicas, adrenalina não é a primeira linha de tratamento na FPIES. No entanto, ainda é uma emergência médica e requer fluidos intravenosos imediatos como tratamento.

Como mãe de uma criança com FPIES, muitas vezes me pergunto o que devo dizer aos paramédicos se me encontrar em uma emergência relacionada à FPIES. Eu hesito em dizer que meu filho tem uma alergia alimentar porque a primeira coisa que ele faria é administrar epinefrina, em vez de iniciar um IV. Não estou sozinho nesse pensamento. Muitos pais lutam para explicar o FPIES aos profissionais de saúde, principalmente em um cenário de emergência. E, no entanto, no FPIES, uma reação grave exigiria atenção médica imediata para evitar choque”.

Precisamos continuar falando sobre todas as alergias e os diferentes tipos de sintomas para ambos os tipos de alergias: mediadas, não mediadas por IgE e mistas.

https://www.foodallergy.org/fare-blog/why-we-need-stop-referring-ige-mediated-allergies-true-food-allergies