Entrevista com Lidiane Barbosa, do Projeto Crescer e Semear
Lidiane Barbosa quer fazer uma revolução com a Alimentação Saudável. Com o Projeto Crescer e Semear ela leva para as escolas públicas, presencialmente e por meio do EAD (Educação à Distância), conhecimentos que demonstram que comer bem pode sim fazer a diferença.
“O Crescer e Semear leva, através de workshops, oficinas mão na massa e palestras, educação nutricional, alimentar, socioambiental e financeira para escolares, pais e responsáveis e cozinheiros da alimentação escolar nos municípios que atuamos. O escopo final é mudar a qualidade do cardápio das escolas públicas, trabalhando com o mesmo valor que seria destinado à refeição das crianças, apesar de o valor ser super baixo, não oneramos. Levamos novos saberes para novos sabores.”
Chef de cozinha, pós graduada em gastronomia funcional, Lidiane explica que o projeto também envolve a atenção com alergias alimentares, apesar de não ser o foco principal.
“ 90% das receitas ensinadas aos cozinheiros da alimentação escolar são livres de glúten e proteína do leite da vaca. E falamos muito sobre a inclusão, sobre alergias e intolerâncias alimentares. Já 100% das receitas feitas com as crianças são livres de alergênicos, uma vez que um dos nossos escopos é a socialização através da comida.”
Recentemente premiada com o prêmio “Pátria Voluntária”, do Governo Federal, o Projeto Crescer e Semear tem uma atuação modelo nas cidades de Blumenau e Indaial, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, mas possui planos de disseminar por diversos estados do Brasil, com convênios em diversas esferas da administração pública.
Nesta entrevista exclusiva para o Conexão Alimentar, Lidiane Barbosa falou sobre o projeto e diversos aspectos da alimentação escolar.
Fale um pouco da experiência e do propósito do projeto Crescer e Semear. Também conte um pouco essa história, se possível.
O Projeto Crescer e Semear existe desde 2014 com o intuito de levar alimentação de qualidade às escolas públicas do nosso país.
Não fincamos a bandeira das alergias e intolerâncias alimentares, pois já é bastante difícil falar sobre alimentação saudável, quanto mais alimentação restritiva.
Mas 90% das receitas ensinadas aos cozinheiros da alimentação escolar são livres de glúten e proteína do leite da vaca. E, aqui, falamos muito sobre a inclusão, sobre alergias e intolerâncias alimentares.
Terminamos de gravar inclusive o EAD do Crescer e Semear, o PROGRAMA voltado para os COZINHEIROS DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR. 90% dele foi elaborado com receitas livres de alergênicos e existe um módulo específico sobre o tema.
Já 100% das receitas feitas com as crianças são livres de alergênicos, uma vez que um dos nossos escopos é a SOCIALIZAÇÃO ATRAVÉS DA COMIDA.
O Crescer e Semear leva educação alimentar, nutricional, socioambiental e financeira às escolas públicas do nosso país.
O escopo final é mudar a qualidade do cardápio das escolas públicas, trabalhando com o mesmo valor que seria destinado à refeição das crianças. Apesar de o valor ser super baixo, não oneramos. Levamos NOVOS SABERES para NOVOS SABORES.
Acreditamos que a ALIMENTAÇÃO ESCOLAR É FERRAMENTA FUNDAMENTAL NO PROCESSO EDUCACIONAL DE NOSSAS CRIANÇAS.
Através da alimentação escolar DE QUALIDADE, a criança desenvolverá o intelecto, o cognitivo e o aprendizado.
Em Indaial (cidade de Santa Catarina), temos uma parceria bem grande com o gestor no sentido de estarmos “livres” para auxiliá-los a executar o que for o melhor para a qualidade do aprendizado/alimentação das crianças.
O prefeito da cidade, André Moser, é um gestor que se preocupa com o tema.
Mas não podemos deixar de reconhecer o grande esforço e o trabalho das responsáveis técnicas (nutricionistas) do município: Jesley e Andressa. Nos meus anos de caminhada com o Crescer, nunca vi profissionais tão envolvidas e honrando o diploma que um dia receberam.
A preocupação com as crianças portadoras de alergias alimentares partiu delas, e nós, como instituto, já fizemos 104 kits diferenciados para crianças com intolerâncias e alergias alimentares, além de 550 kg de arroz e 954 kg de feijão para os alunos da educação pública municipal durante a pandemia.
As crianças, com o recesso das aulas, passaram a receber um kit alimentação em suas casas, pois sabemos que 78% das crianças do país fazem nas escolas a única ou principal refeição do dia, então não ter acesso a ela geraria mais um grande impacto negativo desta pandemia.
O Decreto Presidencial que autorizou o uso do recurso que deveria ser utilizado no dia dia das escolas fala em seguir as normas e diretrizes do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o Programa determina que os escolares que precisam recebam alimentação diferenciada e também que sejam feitos kits diferenciados de acordo com a idade do escolar e tempo de permanência na escola.
Venho acompanhando a execução do decreto em outros municípios e estados e posso dizer que o que Indaial está fazendo é ÚNICO.
Qual o número de crianças que participam do projeto?
Todos os alunos da rede municipal de ensino de Indaial (9.165) participam do programa do Projeto Crescer e Semear durante o ano letivo.
Em Blumenau, participam 4.165 crianças, alunos de escolas que não recebem a alimentação escolar de empresas terceirizadas.
Conte-nos um pouco do seu trabalho nas escolas públicas da região do Vale do Itajaí, Santa Catarina? E tem ideia de disseminar para outros estados do Brasil?
O Crescer e Semear leva, através de workshops, oficinas mão na massa e palestras, educação nutricional, alimentar, socioambiental e financeira para escolares, pais e responsáveis e cozinheiros da alimentação escolar nos municípios que atuamos.
O trabalho acontece nas escolas, com os escolares durante o ano letivo e com os cozinheiros da alimentação escolar, o mão na massa em universidades das cidades em que atuamos, nos laboratórios de gastronomia.
A ideia é que todos aprendam sobre escolhas alimentares, o impacto que as escolhas geram para nosso planeta e para a nossa saúde. Falamos sobre aproveitamento integral dos alimentos, zero desperdício.
Levamos o agricultor às crianças e as crianças ao agricultor para que entendam todo o ciclo do alimento, toda cadeia, até que chegue à alimentação escolar.
E a participação dos cozinheiros da alimentação escolar é fundamental, uma vez que estes profissionais são agentes de saúde importantíssimos nas mudanças e em todo processo.
A ideia é levar o Crescer e Semear para todo Brasil. Agora, pelo EAD ((Educação à Distância), existe uma possibilidade de tornar essa ideia real, mas sempre pensando em pelo menos um módulo presencial, quando tudo se normalizar. A nossa grande ideia é fazer uma abordagem disseminadora top-down do projeto, a partir de parceria com o Governo Federal.
Seria incrível o Governo Federal implantar em outros municípios e estados, para que todos tenham a conscientização da IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR.
Nessas ações, existem a identificação de crianças com alergias alimentares, severas ou não? Com é o procedimento com os alérgicos alimentares?
Muitas!
Muitas recebem alimentação diferenciada, mas infelizmente sem qualidade nutricional.
O PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) é super bem escrito, mas já existe há 64 anos e precisa ser atualizado.
E quando não é uma prerrogativa dos gestores (prefeitos ou governadores) e nem dos profissionais responsáveis in loco (responsáveis técnicos = nutricionistas)… infelizmente, é feito por fazer.
Um exemplo: se a criança não pode consumir leite e derivados, não é raro vê-la consumindo margarina no lugar, por exemplo.
Qual a sua especialização? Como a maioria de seus clientes restaurantes lidam com a alergia alimentar de seus clientes?
Sou chef de cozinha, fiz várias especializações de gastronomia voltada para saúde e sou pós graduada em gastronomia funcional. A grande maioria dos restaurantes, cafés e produtos com a indústria que eu faço são voltados para clientes com intolerâncias e alergias alimentares. Quando o cliente quer abraçar essa bandeira, eu sempre explico a grande responsabilidade que o mesmo terá em relação à compra de insumos que tenham a garantia de descontaminação, a grande responsabilidade dos funcionários em não comer e não manipular absolutamente nada que contenham esses alimentos. Alguns desistem no meio do caminho e acabam executando receitas sem glúten e sem leite de vaca, mas não levantam a bandeira, fazem por questão de saudabilidade.
Em relação à contaminação cruzada, como você vê esse assunto e como os estabelecimentos estão lidando com isso?
Quando percebem essa grande importância e, principalmente, responsabilidade, procuram órgãos ou associações como a ACELBRA, para que comprem apenas de fornecedores indicados e cadastrados e bancam a cozinha do zero, ou seja, novos equipamentos, que não foram utilizados antes para não correr risco.
Meu primeiro encontro no treinamento com os colaboradores sempre é mais teórico e falamos sobre a grande importância daquele estabelecimento e todas as responsabilidades que iremos abraçar.
E a conscientização não pode parar nesse primeiro encontro.
Como você analisa a conscientização em relação a alergias alimentares de quem lida com a alimentação e mesmo de forma geral? Comente.
Infelizmente, nosso país não está muito preparado para esse tema.
Vemos outros países com a preocupação desde a fabricação da embalagem.
Aqui no Brasil, não existe formação desses profissionais e nem tampouco um cuidado.
Muitos tratam intolerâncias e alergias alimentares como “frescura”.
Quantas vezes ouvimos: “ah qual problema, come só um pedacinho”.
Por isso, decidi trabalhar para abraçar esse público.
Apesar de não ser uma “dor” pessoal, eu acredito MUITO NA SOCIALIZAÇÃO ATRAVÉS DA COMIDA e também que todos possam COMEmoraR, dividindo o mesmo prato.
Acesse:
https://projetocresceresemear.com.br
Entrevista ao jornalista Manoel Fernandes Neto