Já estamos em junho e eu comemoro a vida dos meus dois alérgicos mais velhos, Pedro, 16 anos, e Joaquim, 14 anos. E confesso que tenho a maior a alegria quando os vejo seguindo a vida, a despeito da condição de alérgicos alimentares que seguem sendo desde o berço. Seguem agora adolescentes com amigos, com tamanho desejado, com peso normal, com mente clara e apta às atividades intelectuais e em 95% do tempo sem a chamada “cara de alérgico”.
Também comemoro as conquistas do mês de conscientização sobre alergia alimentar, que foi em maio. Neste 2023 eu passei 4 dias na escola que nos acolhe conversando com crianças de sete a 11 anos. Para os menores contando história inventada e compartilhando vivências, fatos que vi acontecer, que aconteceram comigo, com meu marido ou com meus filhos.
Para os maiores falando sobre as temidas e perigosas anafilaxias e sobre como ajudar a uma pessoa que esteja tendo a reação alérgica mais severa de todas. Usei aulas (podia colocar o link aqui) que o Conexão Alimentar disponibilizou de forma gratuita no portal e foi um sucesso.
A escola abriu espaço e eu aceitei o convite para falar para aproximadamente 750 crianças em 4 manhãs e 4 tardes de ação de conscientização (foto ao lado). O tema desperta interesse. Eles tiveram muitas perguntas, queriam contar que foram, que são alérgicos ou que conhecem alguém que é. Todos têm algo a dizer sobre alergia. E como eles me vêem na escola todos os dias, o tema vai permanecer vivo por muito tempo. E eles tem me gritado pelos corredores, numa manifestação que me enche de alegria.
Maratona de festas
No último fim de semana tivemos uma maratona de aniversários dos amigos da minha pequena Maria. Foram três dias com três festas. Em todas, a minha filha alérgica múltipla e uma coleguinha alérgica a leite foram acolhidas e incluídas. E isso também é um dos meus motivos de comemoração. Em uma das festas vi com alegria as mães, convidadas como eu, mas já mais próximas da dona da festa, resolvendo com o pessoal do bufê o que eles poderiam fazer para incluir minha pequena. Quando eu espantei a chef estava do meu lado tirando dúvidas e voltou com um pratinho farto que Maria saboreou com alegria, embora tivesse saído de casa de barriga cheia, como sempre acontece antes das festas. A mobilização das mães me deu aquele quentinho no coração. Inesquecível.
Apenas uma mãe
Uma mãe nova da turma de Maria é gastropediatra e temos a impressão que nos conhecemos, mas ainda não lembramos de onde. Ela é sempre muito simpática e numa das festas sentamos na mesma roda. Como eu tinha terminado as ações de conscientização na última semana, a história da alergia estava muito viva nas mentes e corações porque as crianças levaram muita informação para casa.
Inevitavelmente conversamos sobre o tema. Uma outra mãe perguntou minha profissão. Quando eu disse que era jornalista desempregada ela rebateu dizendo que achava que eu era da área de saúde. A médica concordou e reforçou que eu sabia o que estava falando. “Até os termos médicos”. Aí eu disse a elas que sempre que converso com platéias de crianças ou adultos deixo claro que eu não sou médica, nem nutricionista.
Eu sou só uma jornalista que virou mãe e que morria de medo de ser negligente com os filhos alérgicos, então estudei tudo o que pude, li muitas coisas, escutei muitos médicos e aprendi a dar qualidade de vida aos meus filhos, porque o que eu Tiel, pai deles e meu marido, sempre quisemos é que eles pudessem viver qualquer experiência e vivessem de forma plena.
Acho que posso dizer com tranquilidade que negligente eu não fui e não sou com a alergia alimentar. Então vamos seguir vivendo, com ou sem alergia e sendo feliz enquanto as histórias se desenrolam! Por mais maios, por mais conscientização e por muitos e muitos aniversários para comemorar!
Flávia Ribeiro Nunes Pizelli, jornalista,
produtora de conteúdo e mãe de alérgicos!
E-mail: ribeironunesflavia@gmail.com