Os beijos de Sarah

Por Sarah Soares, Florianópolis 
@_alergico

Vou compartilhar um pouco minha experiência sobre beijos.

Eu não vivi minha adolescência alérgica também. Quando eu era adolescente eu tinha muita dermatite, mas só me consultava com “dermatos” e nenhum deles me indicava um alergista ou indicava algum outro tratamento, além do uso de corticoide. (naquela época, na minha cidade, era assim)

Na verdade eu descobri as restrições bem mais velha. Mais ou menos uns 8 meses depois de começar a ficar com meu namorado. Devia ter uns 22, 23 anos.

Minha reação não é rápida, muito pelo contrário, levo até 48h para ter um sintoma. Poucos alimentos me dão reação instantânea. Então, na época, a gente nem se ligava na questão beijo. Foi um processo muito longo para minha adaptação, porque eu era muito distante de todo e qualquer movimento de alimentação saudável. Nunca lia o rótulo, não tinha consciência que a comida era feita com vários ingredientes diferentes, sabe?

Então a vida seguia normal hahahah a gente se beijava normalmente.

Demorou muito tempo pra isso mudar e a gente começar a refletir sobre os possíveis efeitos do beijo. Foi justamente conhecendo outras pessoas e ouvindo outras histórias que fizeram a gente pensar sobre isso. E aí a gente começou a evitar. Mas quando isso aconteceu, quando virou rotina, já estávamos há bastante tempo juntos.

Esses dias, estávamos falando sobre isso inclusive. Me pergunto: se quando a gente tivesse se conhecido, se naquela época já tivesse o diagnóstico, a coisa iria funcionar do mesmo jeito e estaríamos juntos hoje?

E a resposta é que eu não sei hahahaha; no começo a gente tinha vários encontros envolvendo comida. Sempre saímos para conhecer novos lugares e nosso primeiro encontro foi comendo hambúrguer.

Por conta de uma questão pessoal, naquela época eu não me sentia confortável em ter encontros na minha casa, e ele não morava sozinho. Então eu não sei como seria sem poder ter a dinâmica de comer fora e isso me deixa muito triste. Porque eu sei que conhecer pessoas não é fácil, ainda mais quando nossa autoestima não é boa por conta das alergias, ainda mais quando a gente não pode ter encontros tradicionais…

Quando eu descobri o diagnóstico eu me sentia muito mal, tinha muito medo. Achava que ele nunca ia querer ficar comigo porque minha pele toda tava estourada, eu me sentia deformada, as pessoas me paravam na rua, era muita ferida, sangue, pus, inchaço…. ainda tinha a nova camada, não ia mais poder comer o que gostava (pq no começo eu não lidava bem com qualquer pessoa comendo coisas que eu não podia).

Hoje eu consigo ir em uma pizzaria e ficar de boa, levar marmita ou só beber um vinho.