Aqui em casa não entra refrigerante, extrato de tomate, alimentos que beiram a zero em nutrientes. Agora fazemos feira toda semana e a maior parte das nossas refeições é caseira.
No dia em que a Rebeca nasceu, minha vida mudou por completo.
Eu consigo ver a maternidade pela janela da minha cozinha. Quando cheguei em casa pela primeira vez com ela nos braços, fui até lá e fiquei olhando já com saudades e vontade de reviver aquele dia de novo, de novo e de novo.
Não foi um parto perfeito, bem longe disso, mas algo em mim sabia que aquele tinha sido um momento de virada para mim e minha nova família.
Quando ela completou 20 dias de vida fomos ao hospital. Tinha sido um dia esquisito, sem mamar e estava molinha. Minhas angústias de mãe de primeira viagem me fizeram ir ao pronto-socorro.
Lá a médica prescreveu uma mamadeira de fórmula para eu oferecer a ela enquanto ficávamos em observação.
Eu não pretendia fazer isso. Ofereci o peito mais uma vez com esperança que ela pegasse e ela pegou! Mas aquela mamadeira ali do meu lado, tão bonitinha. Eu queria ver a carinha dela tomando, e ofereci um pouco. Ela tomou um pouquinho e logo recusou.
Fomos pra casa e dali em diante ela começou numa sequência infinita de gases, cólicas e muito choro.
Foram quatro meses até fecharmos o diagnóstico de alergia múltipla a leite, ovo, soja e oleaginosas.
Nesse tempo eu estudei pra caramba procurando formas de aliviar as dores dela e me manter sã. Foi quando descobri que um diário alimentar poderia me ajudar. E ajudou! E eu queria que todas as mães de alérgicos soubessem que não estavam sozinhas e que existiam coisas simples que podiam ser feitas para que a alergia não fosse um pesadelo e sim apenas mais uma prova de maternidade a ser vencida.
Comecei a montar um negócio para espalhar essa notícia. Minha carreira na área de tecnologia, minha veia empreendedora e o amor pela Rebeca fizeram meu negócio nascer. O Diário da Alergia – um negócio de impacto social que me permitiria trabalhar por um propósito.
Dois anos depois, a Rebeca continua com algumas restrições alimentares, um motivo de preocupação, mas com outros milhares motivos que nos trazem tanta alegria e amor. Ela ilumina nossos dias.
O que mudou com tudo isso:
1 – Nossa alimentação. Algumas coisas já fazíamos, mas aprendemos muito mais. Aqui em casa não entra refrigerante, extrato de tomate, alimentos que beiram a zero em nutrientes. Agora fazemos feira toda semana e a maior parte das nossas refeições é caseira.
Pude conduzir uma introdução alimentar cheia de carinho e nutrição. Me sinto realizada e aliviada por estar fazendo o melhor que posso para nossa saúde.
2 – A alergia me forçou a redobrar as atenções e cuidados com ela. Não de uma maneira superprotetora, mas de uma maneira que me fez dar mais valor a cada momento; me trouxe também essa vontade de ler e estudar muito, e optar com informação sobre o que considero melhor na educação e cuidados com ela. Com tudo isso, o caminho natural foi não voltar ao meu emprego após a licença maternidade, mas continuar avançando na minha área, dessa vez em um negócio próprio.
3 – Provavelmente fiz mais amigos nessa fase do que em toda minha vida. Conheci outras mães passando pelo mesmo na minha cidade, participei de grupos e até promovi um evento para nos aproximar. À distância ouvi a história de centenas de famílias, suas preocupações e desejos. Cada uma que passou pela minha vida me trouxe um presente e tenho todas guardadas no meu coração.
4 – Hoje eu sei o que é viver com um propósito. Compartilhar o que aprendi e retribuir à sociedade com meu trabalho foi outra transformação que essa jornada me trouxe. Se eu puder ajudar uma mãe a conduzir o tratamento da alergia de uma maneira mais leve, meu papel está cumprido. E é para isso que tenho investido meus esforços.
Se eu pudesse passar por tudo de novo, escolheria mil vezes que a alergia não fosse parte das nossas vidas. Mas ela é, e sou grata por isso.