O que a Covid, guerra e terremoto têm a ver com alérgicos alimentares?

Bianca Kirschner

As últimas semanas e dias têm sido bastante atípicos por aqui. Ou seria típico? Aqui, ainda é o novo normal? Não sei, mas compartilho com vocês que tem sido desafiador somar aos desafios normais de uma grande mudança e adaptação a um novo país alguns detalhes como a ômicron, a guerra – que, mesmo não próxima, assusta com suas causas e consequências – e um terremoto. Terremoto? Peraí que já explico.

A ômicron conseguiu passar pela rigorosa barreira de entrada em Hong Kong. Desde a segunda semana de janeiro, as crianças em Hong Kong seguem com aulas online com previsão de retorno presencial pós Páscoa.

De um país onde até nós tínhamos orgulho, com zero casos locais, passamos ao país com a maior onda de ômicron do mundo. Causas? Uma delas se deve à baixa taxa de vacinação, principalmente dos mais idosos. Aqui, ainda muitos estão apenas fazendo a primeira dose.Toda essa situação acentuou algumas políticas “zero covid” na cidade e, em um determinado momento, governo cogitou decretar lockdown e inúmeras foram as pessoas que começaram o que chamamos de panic buying, ou seja, começaram a comprar alimentos para estocar, e isso deixou supermercados e respectivas prateleiras vazios.

As prateleiras vazias certamente nos remetem a períodos de guerra, que hoje não são mais do passado e sim do presente. E fica difícil não refletir sobre a população do local atingido, os idosos, as grávidas, a comunidade de minorias, como os alérgicos alimentares. Dentro da normal dificuldade em conseguir alimentos inclusivos, como achar durante uma guerra?

Terremoto e realidade

E foi em um diálogo com minha amiga Raquel Rodarte, que também junto com a maternidade aprendeu sobre restrições alimentares, pois é responsável pelos cuidados diários de sua filha celíaca e diabética, que compartilhei um dos meus pânicos dessa semana.

De domingo para segunda, 14 de março, acordamos com um tremor de terra que posteriormente foi confirmado como um terremoto a 92 quilômetros de Hong Kong. Foi um mini tremor, sem danos, porém, foi minha primeira experiência com algo assim e milhares de coisas se passaram na minha cabeça em segundos…caneta de adrenalina? Antihistamínico? Passaportes? Um lanchinho?

Como muitas pessoas não sentiram o tremor, não houve movimentação de vizinhos ou de pessoas na rua. Então, também pensei que podia ser algo somente na nossa casa e por alguns momentos cogitei tirar todos de centro de casa.

Loucura?? E daí que minha amiga, com suas palavras verdadeiras, entrou em cena, quando contei do ocorrido para ela! Num momento de guerra, de desastre ambiental ou de isolamento do governo devido à Covid (pois aqui em Hong Kong isso ainda é vigente), alguém vai se preocupar se o pão oferecido é ou não é sem glúten? Ou se o lanche é vegano? Não! Nossos filhos, em diversas situações, serão uns dos primeiros a sofrer. O que fazer, como agir?

Extremamente triste, dói o coração. Por isso, temos que ter sempre as mangas arregaçadas para que, pelo menos durante períodos normais de vida, sem guerra, sem desastre natural, sem covid, pessoas com restrições alimentares possam ter o direito de viver com qualidade e oportunidade de vida. Caso as dificuldades aumentem com situações extremas, com certeza vamos encarar com coragem.

Na grande maioria dos dias, tento ser positiva, tento ser inspiração, mas às vezes também paro por alguns momentos, pois, com diagnóstico que recebemos de alergia alimentar, fica cada vez mais difícil nesse mundo atual que tanto nos assusta!

Vamos nos manter unidos.

Bianca Kirschner,
Consultora de Viagens com Alergias Alimentares

Mãe de Lucas e Felipe,
é criadora e diretora
da plataforma Conexão Alimentar

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