Perguntas frequentes

 Disponibilizamos um canal com as principais questões sobre alergia alimentar.

O conteúdo foi preparado pela Dra. Ana Carolina Rozalem Reali (foto ao lado), formada em Medicina (2010). Fez residência em Pediatria (2011-2013) na Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP). Fez residência em Alergia e Imunologia Pediátria (2015) na mesma instituição.  Possui Mestrado em Ciências Aplicadas à Pediatra também pela UNIFESP.
Faz parte do Comitê Científico de Alergia Alimentar da Regional São Paulo da Associação de Alergia e Imunopatologia – ASBAI.

Caso você tenha outras questões relevantes faça uma conexão

 

O que é Alergia Alimentar (AA)?

A palavra Alergia se refere a uma reação não esperada de uma parte do nosso sistema imunológico a substancias existentes no meio ambiente. Essa parte envolve alguns glóbulos brancos como os mastócitos, basófilos, eosinófilos e linfócitos e a produção de anticorpos do tipo E (IgE).

Quando essa reação não esperada envolvendo nosso sistema imunológico é com alguma coisa que comemos chamamos de Alergia Alimentar.

Por que precisa envolver o sistema imunológico?

Porque quando comemos qualquer alimento ele sempre tem algum efeito sobre nós além da nutrição. Na maior parte das vezes nos deixa felizes. Quando ingerimos café por exemplo, a cafeína existente ativa nosso sistema cardiovascular e sentimos nosso coração acelerar. Quando uma pessoa que tem baixa produção da enzima lactase no intestino (os chamados Intolerantes a lactose) comem alimentos contendo lactose ela tem dor de barriga, desconforto abdominal e diarreia porque a lactose não é digerida. Quando comemos um alimento estragado, também ocorrem reações no intestino com outros sintomas gastrintestinais como diarreia e vômitos. Esses todos são exemplos de reações adversas a alimentos que NÃO envolvem o sistema imunológico, por isso não são alérgicas e são conhecidas genericamente como Intolerâncias alimentares.

Por que uma pessoa desenvolve Alergia Alimentar?

Ai as teorias são muitas. Mas começando pelo início da vida é preciso haver uma predisposição genética. Uma suscetibilidade do sistema imunológico da pessoa para reagir a essas substancias do ambiente, nesse caso dos alimentos. Então não tem alergia alimentar quem quer, tem quem pode.

Depois é preciso haver a exposição: a pessoa precisa entrar em contato com a proteína alergênica: seja comendo diretamente ou via leite materno ou pela pele não íntegra (no caso de uma dermatite atópica por exemplo).

E quando há este contato é preciso que o sistema imunológico reaja anormalmente ao alimento através dos glóbulos brancos da alergia e da IgE.

Depois é preciso que ocorram varias outras reações nesta pessoa a nível de sistema imunológico e trato gastrointestinal basicamente para que a proteína alergênica seja capaz de encontrar as células da alergia e produzir sintomas.

Como eu descubro que sou alérgico a algum alimento?

Você provavelmente é alérgico alimentar quando você come determinado alimento e apresenta toda vez o mesmo sintoma ou sintomas parecidos. Caso o sintoma não ocorra quando você não ingeriu o alimento, você provavelmente não é alérgico alimentar.

Quais são os sintomas da AA?

Como já falamos a AA envolve o sistema imunológico e ele é um pouquinho complexo. Para simplificar geralmente usamos a categoria tempo.

Quando a reação envolve a produção de IgE para o alimento (Reação mediada por IgE) ela ocorre muito rapidamente, em até 1 hora da ingestão do alimento – por isso é também conhecida como Imediata. As reações mediadas por IgE são as potencialmente mais graves e que podem provocar uma Anafilaxia com risco de morte. Reações mais leves são inchaços nos olhos, urticarias, vômitos, diarreia. Sintomas respiratórios isolados como rinite e crises de chiado raramente ocorrem como consequência da ingestão de alimentos.

No entanto quando a reação não envolve a IgE e envolve as outras células da alergia – os linfócitos, os sintomas podem se iniciar mais tardiamente, em 2-4h da ingestão do alimento, mas não ultrapassam 24h. Neste tipo, conhecido como Tardio, pode ocorrer diarreia com/sem sangue e/ou muco, vômitos, dificuldade no ganho de peso, entre outros.

Também há o tipo Misto – que envolve as 2 citadas acima. Nela alguns sintomas ocorrem rápido – devido ao envolvimento da IgE e outros mais tardiamente. Neste tipo temos as manifestações de Dermatite Atópica quando estão relacionadas aos alimentos.

Uma pessoa que nunca foi alérgica a nenhum alimento pode tornar-se alérgica?

Sim. Como são inúmeros mecanismos envolvidos, um alimento que a pessoa já ingeria sem sintomas pode se tornar um alérgico. Geralmente isso não ocorre com alimentos que ingerimos todos os dias, ocorre com alimentos que ingerimos uma vez ou outra e aí ficamos um tempão sem ingerir. Isto também não é uma regra, mas ressalta a necessidade de adultos e crianças terem uma alimentação rica e variada.

Quais são os principais alimentos que provocam alergia?

Hoje em dia qualquer alimento pode ser um alérgeno – alguns tem características próprias mais “alergênicas” que outros, principalmente por possuírem proteínas que não são facilmente destruídas por cozimento, digestão enzimática. Atualmente um grupo de 8 alimentos são responsáveis por 80% das reações alérgicas em todo o mundo, são eles: Leite de vaca, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar.

A Intolerância à Lactose é uma reação alérgica?

A intolerância à lactose ocorre quando a pessoa tem pouca ou não tem a enzima lactase no intestino responsável pela digestão da lactose (açúcar do leite) que pode resultar em sintomas intestinais como distensão abdominal e diarreia. Esta intolerância geralmente depende da quantidade de derivados de leite ingeridos e o indivíduo pode tolerar pequenos volumes de leite por dia ou se beneficiar dos produtos industrializados com baixos teores de lactose. Portanto, a Intolerância à Lactose não é uma Alergia Alimentar apesar de frequentemente ser confundida com Alergia a Proteina do Leite de Vaca pelos familiares e profissionais de saúde. Torna-se importante esta diferenciação, pois a orientação nutricional é distinta. Enquanto na intolerância à lactose, eventualmente, é possível ingerir pequenas quantidades de leite e produtos apenas isentos de lactose, na Alergia a proteínas do leite, pequenas quantidade de leite podem levar a reações gravíssimas.

Existe alguma faixa etária para ter Alergia Alimentar?

Não. Pessoas de qualquer idade podem desenvolver alergias alimentares. No entanto alergias a Leite de vaca, ovo e soja são mais comuns em crianças enquanto as alergias a amendoim e castanhas e peixes e frutos do mar em adultos. No entanto como isso reflete a idade da exposição, as alergias que antes ocorriam mais em adultos hoje já são muito frequentes na infância.

Alergia Alimentar tem tratamento?

Não. A alergia em si não tem tratamento. As reações sim. Caso haja uma ingestão inadvertida do alimento alergênico as reações são tratadas com antialérgicos, corticoides e outras medicações mais especificas prescritas pelo medico.

Alergia Alimentar tem cura?

Algumas sim. Leite de vaca, ovo, soja geralmente começam a ser tolerados até a adolescência. Já alergias a amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar geralmente são levadas para a vida toda, menos de 20% resolvem.

O que é anafilaxia?

Anafilaxia é a reação mais grave em Alergia. Ela pode ocorrer em consequência da ingestão de um alimento mas também em alergias a medicamentos e a picadas de insetos. Nela há uma ativação generalizada das células de alergia e várias partes do corpo apresentam reação. Além de inchaços e vermelhões na pele, o individuo pode apresentar vômitos, diarreia, tosse, broncoespasmo, laringoespasmo, inchaço da glote, desmaio e morte.

É possível prevenir a Alergia Alimentar?

Infelizmente não. No entanto atualmente a exposição oportuna dos pacientes aos principais alérgenos no momento da introdução de alimentação complementar aos 6 meses parece proteger das alergias alimentares. O aleitamento materno deve ser sempre estimulado. Os bebes de alto risco de alergia alimentar também devem ser expostos a todos os alimentos aos 6 meses sem necessitar adiar a introdução dos alimentos como forma de prevenção.

Quem são esses bebês de alto risco para Alergia Alimentar?

São crianças com dermatite atópica moderada a grave, alergia alimentar ou filhos/irmãos de indivíduos com doenças alérgicas.

E alergia a corantes, existe?

As reações adversas aos conservantes, corantes e aditivos alimentares são extremente raras, difíceis de serem comprovadas. O corante artificial tartrazina, sulfitos e glutamato monossódico são relatados como causadores de reações. A tartrazina (corante amarelo) pode ser encontrada nos sucos artificiais, gelatinas e balas coloridas enquanto o glutamato monossódico pode estar presente nos alimentos salgados como temperos (caldos de carne ou galinha). Os sulfitos são usados como preservativos em alimentos (frutas desidratadas, vinhos, sucos industrializados) e medicamentos tem sido relacionados a crises de asma em indivíduos sensíveis.

Existe algum exame para descobrir se tenho Alergia Alimentar?

Não. Os exames que detectam a presença de IgE no sangue ou na pele só identificam que aquela pessoa entrou em contato com o alimento e o organismo dela foi capaz de reagir ao alimento. Mas não existe exame capaz de dizer de o organismo é capaz de produzir sintomas quando em contato com o alimento. Por isso não se deve parar de comer um alimento apenas se apresentou um exame positivo para aquele alimento. Dietas de restrição desnecessárias são perigosas pois levam a déficit nutricional principalmente na infância quando os alimentos são tão importantes para crescimento e desenvolvimento.

Quais são os profissionais que cuidam de pessoas com Alergia Alimentar?

Dentre as especialidades médicas sempre deve haver um bom alergista envolvido. Algumas alergias, principalmente as mistas e as Não-mediadas por IgE podem ser acompanhadas por um gastroenterologista também.

Um bom nutricionista a depender da alergia e do impacto das exclusões é extremamente necessário para planejar uma boa dieta de substituição para que não haja impacto nutricional.
Um psicólogo principalmente para as crianças também é essencial. Uma criança crescer encarando alimentos como algo que pode mata-la precisa de muita ajuda para ser bem processado.