Por Bianca Kirschner
Levantamento nos sites demonstra que companhias aéreas brasileiras não oferecem segurança e atenção aos alérgicos alimentares.
Baseado nas minhas experiências internacionais e considerando que já voamos bastante com alergias alimentares, resolvi me aprofundar ainda mais e trazer um material para vocês sobre a situação de 3 companhias aéreas nacionais em relação a inclusão de passageiros com restrições alimentares.
Primeiro, estudei bastante sobre cias aéreas internacionais. Sobre o que já está sendo feito por algumas empresas aéreas e o que poderíamos aprimorar no Brasil.
Nas internacionais destaco algumas conquistas presentes em algumas companhias aéreas:
- Os passageiros estão autorizados a pré-embarcar para limpar o assento e área ao redor;
- A empresa cria uma zona de segurança ao redor do alérgico para que ninguém abra nenhuma opção que trouxe de casa com o alérgeno que precisa ser evitado. A zona de segurança inclui três filas em torno do passageiro;
- A companhia aérea oferece uma variedade de lanches de marcas nacionais com contato cruzado limitado. Opções sem ovo, sem leite, sem glúten e sem nuts;
- A tripulação de voo tem conhecimento consistente da política de alergia alimentar da empresa;
- A tripulação de voo entende a diferença entre intolerâncias e alergias;
- No site da companhia aérea na parte de servicos especiais, há uma parte especial sobre alergias alimentares;
- O anúncio de alergia a bordo faz parte da política oficial da cia aérea;
- Auto injetores são transportados a bordo pela cia aérea;
- Algumas empresas não servem amendoim nos voos.
Agora vamos para as empresas brasileiras. Informo que nosso levantamento foi feito nos sites das empresas, porque não tem muita lógica essas informações não estarem no site:
AZUL
Não foi encontrado nada no site dentro da seção de serviços especiais.
GOL
Na sessão “assistência especial” encontramos uma categoria chamada “pessoa com quadro alérgico” e fica claro que a empresa colocou um disclaimer para se precaver de qualquer ocorrência. Inexiste políticas de inclusão para a nossa comunidade.
Abaixo, o que está escrito:
“ Para clientes que possuem algum tipo de alergia respiratória, cutânea, ocular, alimentar, medicamentosa, a insetos e pelos de animais, a GOL não realiza nenhum tipo de adequação de seus procedimentos operacionais, assim como não oferecem um serviço de bordo especial. (grifo nosso) Os produtos oferecidos podem conter nuts, leite de vaca e soja, dentre outros alérgenos. Recomendam que os clientes busquem orientação médica e nutricional e possuam seus medicamentos utilizados em crises alérgicas em fácil acesso na bagagem, bem como a informação sobre o produto a qual é alérgico. Em caso de alergias extremas, a tripulação deverá ser comunicada durante o embarque. Não é possível garantir uma viagem isenta de um determinado alérgeno.”
LATAM
É bem difícil encontrar informações sobre alergias alimentares. Inclusive até achei que não tinha nada no site. Para chegar à informação, fui clicando “Experiência Latam” – “Prepare sua viagem” – “Bem-estar e saúde” – “Assistência especial” e depois “outras necessidades”.
Encontrei que a LATAM cita possuir alternativas adaptadas às diferentes exigências dos passageiros. E para solicitar o serviço de “Alimentação Especial”, sugere entrar em contato pelo menos 24 horas antes do seu voo.
Porém, foi chocante encontrar a lista de comidas especiais. Dentre as opções especiais, temos “Dietas baixas em glúten” e “Dietas baixas em lactose”. Não entendi como isso inclui uma pessoa com restrições alimentares. Porque os dois itens citados não englobam o leque de alérgicos, nem ao menos uma parte.
Por último, eles citam que algumas opções no cardápio e/ou lanches a bordo contêm frutos secos (nozes, amendoim, pistache, etc.) e não podem proibir nem controlar passageiros que portam alimentos capazes de produzir reações alérgicas. Ou seja, a LATAM não garante um voo livre de substâncias alergênicas.
A empresa recomenda tomar todas as precauções necessárias para realizar a sua viagem, como levar seus medicamentos a bordo e ler os rótulos dos alimentos antes de consumi-los.
Conclusões
A grande conclusão é que nenhuma das três companhias aéreas pesquisadas possui protocolos para incluir a nossa comunidade com segurança dentro de suas aeronaves. Ainda temos um grande caminho de conscientização para ser feito dentro dessa indústria de prestação de serviços.
Enquanto isso, eu aconselho a todos a prosseguirem na luta por inclusão nos voos.
Continuem informando, solicitando serviços, pois as companhias aéreas precisam entender que alérgicos viajam. Porém, não esperem inclusão.
A ordem é atenção e planejamento:
- Sempre que possuírem, traga(m) sua(s) caneta(s) de adrenalina na bagagem de mão;
- Ligue com pelo menos 48 horas de antecedência para lembrá-los de suas alergias e alertá-los quando fizer a reserva;
- Traga lenços umedecidos para limpar sua área antes de embarcar ou quando sentar e quando a comida estiver sendo servido;
- Avise os comissários de bordo sobre as alergias e sobre a localização de seus medicamentos no caso de você ter uma reação alérgica;
- Peça (se eles não oferecerem) para fazerem um anúncio de cortesia em seu nome (especialmente se suas alergias forem transmitidas pelo ar).
Fontes:
https://www.latamairlines.com/br/pt/experiencia/prepare-sua-viagem/bem-estar/assistencia-especial
https://www.voegol.com.br/informacoes/assistencia-especial
Imagem meramente ilustrativa de Gerhard por Pixabay
Bianca Kirschner,
Consultora de Viagens com Alergias Alimentares
Mãe de Lucas e Felipe,
é criadora e diretora
da plataforma Conexão Alimentar