Uma viagem de aniversário e o sonho da inclusão concretizado!

Hoje quero convidar vocês que são alérgicos ou conectados com o mundo da alergia para um exercício de imaginação! Um exercício feliz, que mais parece um sonho! Vamos lá?

Imaginem que vocês nunca tiraram férias da cozinha desde que seus filhos nasceram. Mesmo que sua mãe, sua irmã ou alguém em quem vocês confiem se encarregue de alimentar sua prole, com certeza você fez as compras, ou orientou e pensou sobre as comidas e os cuidados. Mas você vai sair por uma semana de férias para um lugar onde as pessoas estão preparadas para fazerem a comida da sua galera, de forma segura, gostosa e bonita. Claro, você preparou este momento, trocou alguns e-mails, mas serão dias de descanso e seu trabalho será escolher no cardápio, todos os dias, o que vai ter para comer! Eu e minha família vivenciamos isso algumas semanas atrás. Foi verdade! É possível!!! Não foi sonho e não virou pesadelo!

O aniversário de Maria, de seis anos, estava às portas. E Tiel, o meu marido, teve a ideia de viajarmos para a praia e passarmos dias de sol e mar. Ter que fazer comida nas viagens nunca foi empecilho para nós! A gente sempre viaja carregando marmitas, panela elétrica, as vezes liquidificador e por aí vai. Todo aquele aparato que quem é alérgico ou tem alguma necessidade alimentar especial conhece bem. Tudo para garantir que as crianças tenham comida segura, gostosa e nutritiva. E em todas as férias desde que descobrimos a alergia, há 12 anos, cozinhamos. Nossa rotina de férias sempre começa fazendo a comida que eles vão consumir durante o dia e comprando os ingredientes do dia seguinte.

Mas o improvável e surpreendente estava para acontecer nesta última viagem. Atualmente nossos filhos não estão reagindo a traços de alimentos proibidos em talheres e utensílios, embora a gente não tenha praticamente nada do que eles não comem em casa. Mas comem bolo que minha mãe faz com o próprio liquidificador e assa no forno dela e nada acontece. Graças a Deus. Então a gente tinha essa garantia. Lembrando aqui que os traços que o povo da alergia fala são micropartículas de proteínas que ficam grudadas em alguns utensílios, mesmo depois de exaustivamente higienizados. Não é uma questão de sujeira. Tudo de alérgico é limpo e limpo novamente!

Vimos que o site do hotel, onde tínhamos feito a reserva, dizia que tinha um cardápio kids e nutricionista que garantia a qualidade e a segurança da comida. Eu tinha visto aqui no Conexão que uma família teve uma reserva recusada e o pagamento estornado quando perguntou sobre possibilidade de alimentos para o filho alérgico. E e a criança era alérgica a poucos alimentos! Imagine os meus, praticamente os príncipes da alergia?

Mas como perguntar não ofende, liguei pro hotel! Disse que éramos uma família de alérgicos e que precisávamos saber se eles eram capazes de fazer a comida especial de forma segura. Para meu espanto, como se não fosse uma novidade, o recepcionista disse que eu precisava falar com a nutricionista. Tentou transferir minha ligação, que retornou. Então me deu o e-mail dela. Imediatamente fiz contato. Ela respondeu perguntando que dia estaríamos lá, quais eram nossas restrições e que eu mandasse uma lista do que eles comiam habitualmente. Também disse que estava aberta a sugestões de receitas! Desconfiada fiz um e-mail enorme, com todos os alimentos permitidos, aquelas orientações sobre higienização dos utensílios e um monte de receitas que fomos colecionando ao longo de 12 anos de dieta restritiva e livre de alérgenos.

Até que o dia da viagem chegou e eu arrumei as malas pensando em colocar pacotes de biscoitos, tapioca e umas frutas para garantir a chegada. Antes de sair de casa avisei que estávamos chegando pro almoço. Quando chegamos a Aracaju, Laryssa Ribeiro, a nutricionista que tinha me prometido dias de férias da cozinha tinha respondido ao meu e-mail explicando o planejamento e como eu deveria proceder na chegada. “Eu não estarei no hotel quando vocês chegarem, mas a equipe está ansiosa para recebê-los”. Mostrei a Tiel o que ela tinha escrito! “Parece mentira, né?” Parece. Vamos aguardar! Eu respondi!

E logo começou o que vai nos marcar por toda a vida. Pratos muito bem cuidados, até bolo de aniversário Maria teve, com a receita do Pedroaco Diversões, canalzinho de YouTube que eles mantém com comidinhas inclusivas e outras coisas divertidas. Sucos, sobremesas e muito espanto meu e do meu marido, além do encantamento deles por terem comida de um hotel.

A nutricionista Laryssa

A equipe realmente estava preparada para nos receber e estava segura. Quando eu falei com uma garçonete que eu era a mãe da família com necessidades alimentares especiais ela fez cara de: finalmente! Sorriu e disse que estavam todos avisados. Seu Gilvan Silva, o maitre, veio nos atender. Sorridente, serviu suco e apresentou para as crianças as opções do almoço que a nutricionista tinha deixado orientado! Eles escolheram meio atônitos. Nunca fizeram isso na vida! Eu e Tiel não acreditamos no que estávamos vivendo. Ao fim do almoço nos apresentaram um cardápio para escolhermos os pratos do restante do dia. Quando serviram o jantar, nós, os pais, tivemos vontade de chorar.

A nutricionista Laryssa, o chefe Luciano Albuquerque, o seu Gilvan e toda a equipe de garçons, cozinheiros e confeiteiros que articularam todo o esquema para que os dias fossem de paz não tem noção do que representou para nós. Que o mundo tenha mais Laryssas, Lucianos, Gilvans, Tamires, Ivanildos, Luxos, Vals, Danieles, Rafaels e todos os outros que nos proporcionaram uma experiência tão rica!

Os cuidados também estão presentes na recreação, quando eles perguntam a todos os responsáveis se a criança que vai brincar tem alguma alergia alimentar. A equipe comandada pela “tia Beyoncé” também foi avisada sobre os meus filhos e quando nós respondíamos a pergunta eles invariavelmente diziam que estavam avisados!

Esse textão todo é pra contar que é possível alérgicos comerem, de forma segura, a comida de uma cozinha grande e industrial como a de um hotel. Dizer que isso depende de você perguntar sobre as possibilidades. Que é possível com profissionais habilitados, com empatia e que planejamento e organização são fundamentais, como me disse a Laryssa.

Quando questionei a jovem nutricionista, de 24 anos e menos de dois anos de formada, sobre onde ela tinha aprendido a ser tão cheia de empatia ela disse com a maior simplicidade que era encargo da sua profissão.

“Nutricionista tem que ajudar as pessoas a se nutrirem de forma segura. As pessoas vem pra cá pra dias de descanso. É importante ter a paz da comida adequada. Tudo depende de sermos informados, de planejamento e organização”, disse a profissional que cursa pós-graduação em Tecnologia e Gestão na Produção de Alimentos, mas também gosta de estudar sobre restrições alimentares causadas por alergias e intolerâncias.

O chef Luciano nos contou que sabe que muitos hotéis estornam pagamentos quando sabem que os hóspedes têm alguma necessidade alimentar especial, mas que na cozinha dele estão preparados, desde que saibam, para se organizarem. “Podem vir alérgicos. Pode vir qualquer um com alguma necessidade especial”. A confeiteira Valdeci da Penha , que fez um bolo de aniversário lindo pra Maria, nos deixou felizes quando elogiou nossa receita! “É uma receita muito produtiva e fácil. Vou guardar essa receita pra outros hóspedes”.

A cozinheira Luxo e o maitre Gilvan

A cozinheira Rosângela Alves, que produz uma comida que faz jus ao seu apelido, Luxo, revelou que gosta de atender aos pedidos de comidas especiais e que tinha muito cuidado. “A dra. e o chef orientam muito bem a equipe. O que vocês fizeram, contando sobre a alergia e até mandando as receitas é o ideal a se fazer. A gente fica feliz que a nossa comida agrade, que os hóspedes saiam satisfeitos”, explicou.

Como o hotel é bem grande, em geral duas cozinheiras ficam escaladas como responsáveis para os alimentos especiais. “Sempre tem alguém com alergia, intolerância, diabetes ou alguma outra necessidade. É possível estar preparado, mesmo numa grande cozinha. A equipe está comprometida e a parceria com o chef possibilita tudo isso”. Em alta temporada o número de hóspedes que revela alguma necessidade alimentar especial chega aos 5%, finalizou a nutricionista.

Então, depois de uma semana com eles, nosso sentimento é de gratidão e expectativa para ver como outros hotéis se comportam em uma próxima viagem! E nossa vontade é de voltar sempre ao Makai Resort Hotel, onde vivemos pela primeira vez a experiência de sermos servidos com comida segura, gostosa e bonita para os nossos três filhos alérgicos alimentares múltiplos!

Flávia Ribeiro Nunes Pizelli, jornalista, mãe de Pedro, 13 anos, Joaquim, 11 anos e Maria 6 anos!

Galeria

 

Flávia Ribeiro Nunes Pizelli, jornalista,
produtora de conteúdo e mãe de alérgicos!
E-mail: ribeironunesflavia@gmail.com

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