Projeto Adolescência: Capítulo novo cheio de desafios

Flávia Ribeiro

O tempo passa muito rápido e a vida vai seguindo seu curso. Quando eu olho pra trás vejo que foi há pouquíssimo tempo que começamos a ter filhos e a viver a aventura de sermos pais.

Embora tenha pouco tempo, às vezes também tenho a impressão de que vivemos um século nos últimos 15 anos, tamanho o volume de experiências e sentimentos que acumulamos.

Eu acredito nas escolhas e na construção de um caminho mais ou menos florido, de acordo com o que semearmos. Com dois filhos na idade de muitas descobertas e aumento da autonomia, eu e Tiel seguimos firmes no nosso Projeto Adolescência. Provavelmente esse projeto vai nos habilitar a fazer tudo mais fácil com Maria também, quando chegar a hora dela.

Novas amizades e interações

Aos 12 anos, Joaquim tem um grupinho fiel de amigos que ele conquistou durante a pandemia. Chegamos em 2020 à escola onde os três estão atualmente e tivemos pouquíssimo tempo para conhecermos as pessoas e para sermos conhecidos, mas ele conseguiu construir amizades.

Conquistamos acolhimento na turma dele e as pessoas souberam de nossa condição de vida alérgica. Desde o retorno às aulas presenciais, no ano passado, tivemos lanches de aniversário onde ele foi incluído.

Para Pedro foi um pouco mais difícil e só este ano ele tem um grupo de amigos que começa a fazer programas coletivos. Já experimentaram ida à praia após a aula, para conversarem e se exercitarem, já foram ao jardim que tem perto de casa e até a uma lanchonete que ele sabe que faz batata frita sem contaminação cruzada, mas chegou o dia de irem a um restaurante.

Mãe, meus amigos estão marcando de irem a um restaurante aqui perto. Mas acho que não vou. Tem rodízio de pizza.

Ele me disse.

Foi uma oportunidade para um treinamento. Sugeri que olhasse o cardápio na internet e visse se tinha alguma opção possível. Se tivesse, era o caso de ligar e conversar para saber se o restaurante estava apto a atender um alérgico.

Da cozinha escutei a conversa que ele teve com o maitre. Explicou que é alérgico, falou sobre o encontro com os amigos e sobre os perigos de contaminação cruzada. Pediu explicações sobre um determinado prato de carne bovina com batatas. Ouviu como resposta o que queria. O restaurante sabe o que é alergia alimentar e o maitre reforçou que ele avisasse na hora do pedido.

Veio feliz me contar o que tinha escutado e ponderamos sobre o que falar e como agir no restaurante. Mas como um grupo de mães e pais também foi, eu acabei indo. Pude conversar com os outros responsáveis e fiquei sabendo que o restaurante é dos pais de uma das colegas de turma dele. Ele não foi o primeiro alérgico que atenderam, estão acostumados. Isso me deu ainda mais segurança.

Pedro e Joaquim

Segurança e instintos

Mas o importante desta história é que Pedro, no ano em que completa 15 anos, continua alérgico, mas está dando mostras de que aprendeu ao longo de sua existência a como interagir e comer com segurança.

Uma outra coisa que ele aprendeu é a ouvir seus instintos. Quando desconfia de algum alimento simplesmente não come. Diferente de Joaquim e Maria, que confiam piamente na gente e na hora não hesitam. Ele lê os rótulos dos industrializados e tem medo de passar mal.

Com alguns alimentos, como por exemplo trigo, a gente entende que ele tem muito medo de uma nova anafilaxia. Ele não quer testar NUNCA mais. Teve uma hemorragia estomacal numa tentativa de introdução há quase 10 anos e diz que nem pensa em experimentar novamente.

Com castanha do Pará ele também tem trauma. Teve uma anafilaxia ao inalar fragmentos da castanha do avô. Atualmente prefere não tentar castanha nenhuma. Outro dia, rejeitou um café com leite vegano gelado de uma cafeteria que ele ama porque o leite era de castanha de caju.

Sem fator limitante

Um novo capítulo vai se abrir para ele em junho. Além de completar 15 anos, vai viajar num passeio da escola, com muitos colegas e professores. É a primeira vez que vai estar sem mim, sem o pai e sem minha mãe ou minha irmã, em quem ele confia para fazer a comida dele e para agir em caso de alguma emergência.

Joaquim, Pedro e Maria

Estamos preparando tudo e nos certificando de que estará seguro e que as pessoas estarão preparadas para lidar com qualquer necessidade especial que apresente na viagem, mas este será tema para outra conversa, para outro dia!

Até lá seguimos confiando e treinando para que eles saibam o que fazer sem a gente e que tenham a vida plena em qualquer fase. Sempre acreditamos e ensinamos a eles que a alergia não é um fator limitante, que eles não vão deixar de viver nada.

É isso o que estamos perseguindo sempre: o direito à vida plena.

Flávia Ribeiro Nunes Pizelli, jornalista,
produtora de conteúdo e mãe de alérgicos!
E-mail: ribeironunesflavia@gmail.com

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