Por Flávia Ribeiro
Já faz alguns anos que eu dedico boa parte dos meus dias de maio à Campanha de Conscientização Sobre Alergia Alimentar. Sim, eu faço isso de modo permanente há muito tempo, mas maio é o mês da ALERGIA, assim como todos os outros meses do ano tem seu tema de conscientização. Há quase 14 anos eu recebi o primeiro diagnóstico de alergia alimentar. A estréia foi com Pedro, Joaquim ainda não estava no mundo. Mas antes que eu encontrasse um médico que me dissesse as coisas direitinho, Joaquim nasceu.
E com eles dois pequenos, vivemos toda a sorte de reações alérgicas, desde a temida anafilaxia até as infecções por repetição, incluindo duas perfurações de tímpano. Eles estão aqui adolescentes como todos os outros, sabendo de tudo o que acontece no mundo, já preocupados com o ENEM e com a vida seguindo, a despeito da alergia alimentar que continua companheira deles.
Apesar de jornalista e de estar acostumada a escrever textos que divulgavam histórias, foi só em 2015, com Maria um bebê de 06 meses que eu me juntei a um grupo de pais, mães e avós de Campos e realizamos a primeira Semana de Conscientização Sobre Alergia Alimentar da cidade com apoio de médicos, nutricionistas e professores cheios de empatia.
Mas foi na sala de espera do consultório do pediatra alergista Carlos Hamilton Oliveira, no ambulatório de alergia alimentar da Prefeitura de Campos que eu vivi a experiência que me fez trabalhar na conscientização. Desde então, eu compartilho informações sobre o tema de forma rotineira. Estava aguardando que d. Nancy, a secretária gente boa que resolvia tudo pra todo mundo, providenciasse com o médico uma declaração para que a enfermeira responsável pela imunização destinasse ao meu pequeno uma vacina com menos chances de reação. Enquanto eu aguardava com Joaquim bebezinho no colo ouvi uma mãe pedir um encaixe pra filhinha que ela trazia embrulhada numa cobertinha.
Mamãe estava comigo, levando Pedro que tinha pouco mais de 2 anos. Eu não sei se ela lembra desse dia. Mas foi a curiosidade da minha mãe que me levou àquele impacto. A moça começou a nos contar que a filha era alérgica e que tomava um leite especial. Já comia legumes, verduras, frutas e algumas carnes. Estava seguindo muito bem. Mas poucos dias antes a menina quase tinha morrido. Eu ouvi aquela história sem conseguir falar nada. Por sorte ela morava perto do Hospital Geral de Guarus e encontrou lá uma médica plantonista que soube reverter o choque anafilático.
Mas o que aconteceu? Porque ela teve o choque? A mãe contou com calma que como a entrega governamental do leite tinha sido interrompida o marido passou na padaria, comprou um saquinho de leite de vaca. Ela ferveu e fez a mamadeira da filha. Antes que a menina bebesse a metade ela saiu correndo pra emergência, acreditando que a filha estava morrendo. E poderia mesmo estar. Mas não morreu e no dia que a encontrei estava com uma ferida no bumbum como consequência que ainda restava da reação alérgica severa que enfrentou. A mãe nos mostrou a ferida em carne viva.
Aquela mãe não deu leite de vaca por maldade ou preguiça. Ela deu porque ninguém disse a ela que deveria dar mais comida, dar suco, qualquer coisa, menos leite. Ninguém disse sobre os perigos da anafilaxia, nem explicou o que era. Naquele momento eu entendi que faltava informação até para nós, pais de alérgicos. E desde então eu faço campanha para que mais pessoas entendam o que é alergia alimentar.
Qualquer pessoa pode fazer também ou pode ajudar a quem faz. Eu já fiz com a ajuda de muita gente caminhadas, piqueniques, articulação para lei municipal, rodas de conversas, seminários e outras coisinhas, mas é possível fazer conscientização efetiva, mesmo que com trabalho que você ache que é de formiguinha. Então aproveite esse ano e participe! Maio está só começando.
Você pode:
- Compartilhar informação segura com os seus parentes, os professores seus ou de seus filhos e com amigos;
- Pedir ao médico ou nutricionista do seu filho ou ao seu para fazer uma live sobre o tema ou para ir a escola conversar com os professores ou com os alunos;
- Enviar material para divulgação para a imprensa;
- Pedir a escola que promova alguma ação durante a semana e pode se oferecer para ajudar;
- Convidar outros alérgicos para uma caminhada de conscientização ou para um piquenique com comida inclusiva;
- Usar e presentear pessoas com o selo da campanha que o Conexão disponibiliza aqui no portal;
- Dizer a alguém que está perdido com o diagnóstico que a poeira assenta e que existe vida sem os alimentos mais comuns e convencionais para a maioria da população;
- Viver de forma plena e segura, reforçando que a alergia alimentar pode não ser um fator limitante.
Galeria:
Flávia Ribeiro Nunes Pizelli, jornalista,
produtora de conteúdo e mãe de alérgicos!
E-mail: ribeironunesflavia@gmail.com