As lições da quarentena para alérgicos alimentares

Por Bianca Kirschner

Como estão vivendo a quarentena quem possui alguma alergia alimentar e seus familiares.

Isolamento social e alergia alimentar. O que essas duas condições, unidas, podem trazer de sentimentos, emoções e novas sensações.

Medos? Conquistas? Incertezas? Dúvidas?

Para termos algumas respostas, conversamos com algumas mães que convivem com alergias alimentares dentro da quarentena para saber como estão vivendo.

Respostas de algumas questões, tais como quem está passando por esse período, os principais medos e receios, a convivência mais aprofundada com a família, como está a cabeça dos pequenos e os ensinamentos de toda essa experiência.

Herena, Fabiana e Priscilla foram muito atenciosas com o Conexão Alimentar e trazem seus depoimentos a seguir.

 

Herena, enfermeira, Itapira-SP
@herenaangelica

Estamos em quarentena os três da casa há mais de 15 dias. Meu esposo, minha filha de 1 ano e 4 meses e eu. Mas, agora, só minha filha e eu. Meu esposo voltou ao trabalho.

A Marcela teve choque anafilático aos 7 meses por consumo de ovo cozido. A alergista investigou outras alergias pois desconfiava de APLV por conta do refluxo e baixo peso, mas só deu alimentar ao ovo e respiratória a pelos de animais. A dermatite atópica está controlada. Moramos na cidade de Itapira-SP. Sou enfermeira, mas não voltei ao trabalho, pois é difícil deixar a Marcela com alguém totalmente responsável por conta da alergia.

Meu maior medo é necessitar ir ao hospital por qualquer motivo, alergia, fratura, febre alta, pois lá o risco de contrair o coronavírus é maior.

A convivência tem altos e baixos. Os hormônios estão à flor da pele. Mas meu esposo tem se mostrado um paizão na quarentena.

A minha filha ainda é muito pequena para entender o que acontece. Mas fica irritada em não poder abraçar o pai quando ele chega.

O isolamento social nos mostrou a importância de “puxar o freio”, olhar com mais calma para a necessidade do outro em casa. A importância da higiene de tudo que vem de fora (medicamento entregue, compra do mercado). Que vivemos bem com o básico, que muita coisa é supérflua.

 

Fabiana, empresária.
São Simão – SP

@Receitasparaalergicos

Na casa moram eu (Fabiana), Júlia (filha), Elisa (filha) e Regina, minha mãe (avó). Mas todas as tardes meu sobrinho Miguel de 5 anos vem ficar aqui. Como era de costume desde bebê, passa o dia todo aqui enquanto seus pais trabalham.

Sou professora, criadora do Instagram @receitasparaalergicos;  sou alérgica múltipla ( leite, ovos, soja, trigo, milho, mandioca, nuts em geral, peixes e crustáceos e algumas frutas), Miguel ( sobrinho, alérgico ao leite já tolerante, hoje faz exclusão apenas da lactose ), Elisa ( filha ) alérgica múltipla ( leite, ovos, soja ), Júlia, que se forma este ano no curso de fonoaudiologia da USP ( filha) é alérgica ao camarão, tem urticária ao frio.

Estamos tendo dificuldades, sim, em encontrar produtos. Já precisamos pedir para conhecidos comprarem em outra cidade e estamos comprando pela internet. Estamos seguindo o distanciamento social à risca, visto que tenho asma alérgica grave de difícil controle, pertencendo ao grupo de risco, e tem minha mãe também com 69 anos.

Estamos fazendo tudo para uma boa convivência, tendo paciência, respeito; comprei jogos novos (internet) para as meninas, fazemos artesanatos, ouvimos músicas e, claro, muitas receitas inclusivas. E as meninas assistem séries, etc… brincamos com o Miguel de tinta, massinha, jogos, areia, etc.

Sobre como as crianças estão encarando, vou responder pensando no Miguel, ele entende bem o que está acontecendo, faz suas tarefas da escola, enviamos as fotos, ele diz sentir muitas saudades de ir ao shopping e brincar com crianças.

 

Priscilla
Empresária, São Paulo-SP
@priscillapandolfo

Somos em três, mãe (Priscilla) e pai (Adriano) e nossa menina celíaca (Cecília).

Não tivemos medo da escassez dos alimentos. Seguimos 100% a alimentação segura e livre de contaminação cruzada, por isso preparamos 99% das nossas refeições em casa. O trivial e que podemos consumir é encontrado facilmente nos mercados, como arroz e feijão, por exemplo. Porém, o que nos tirou o sossego foi o medo do desconhecido. A condição celíaca é uma doença autoimune. Ficamos naturalmente preocupados com a imunidade dela e por consequência com poder a expor a qualquer risco. Porém, em contato com a fonte de maior confiança, que é a médica que nos acompanha, seguindo a dieta livre do glúten e cuidando com a contaminação cruzada, a doença estará controlada e vida que segue.

Estamos seguindo bem, não foi e não está sendo fácil enfrentar tudo isso, foram muitas mudanças e também muitos os medos, porém temos sido apoio um para o outro. O sentimento é de se colocar no lugar e segurar a barra juntos. Não está fácil, a hora da aula online é um terror (risos), reorganizar a rotina é bem difícil e não estamos com grandes cobranças, pois entendemos que cada família é única e passará por esse momento do seu jeito. Já a alimentação e poder fazer as refeições juntos foi positivo, estamos mais próximos e conectados.

Por aqui, levamos o mínimo de informação sobre a pandemia para Cecília; ela sabe o que é necessário, que as aulas foram suspensas porque é preciso fazer o isolamento, sabe o que o bichinho do vírus faz e como ela deve se cuidar e se prevenir. Não levamos terror e nem deixamos chegar até ela nossos medos e sim a esperança de que tudo vai passar que juntos vamos superar esse momento. As perguntas são esclarecidas de forma lúdica e natural.

Temos repensado muito em nossa vida e no que de fato nos faz feliz. Nossa rotina é bem puxada e de repente tivemos que colocar o pé no freio, isso tudo nos leva a pensar que tudo pode mudar do dia pra noite e será que estamos preparados? Lidar com as nossas dores e o sofrimento de tantas pessoas nesse momento nos despertou o desejo de viver com mais calma, com o pé no chão e com mais simplicidade. Sentimos a necessidade de mudar. Quantas situações comuns, do nosso dia a dia, não dávamos valor e hoje estão nos fazendo uma falta enorme? São muitas as perguntas! Então, resolvemos mudar, nos reconectar como família e parte do coletivo com a certeza que dependemos um do outro e que precisamos nos ajudar.

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