Me chamo Camila L. G. Andrade, sou cozinheira inclusiva da DaLu Sem Leite e fisioterapeuta de formação.
Sou casada há 5 anos com Danilo de Andrade e, juntos, temos a Beatriz, de 4 anos (não alérgica), e a Luana, de 2 anos (com múltiplas alergias). Moro há quase 4 anos em Sorocaba, cidade localizada no interior de São Paulo.
A Luana tem múltiplas alergias alimentares não mediadas, com reações tardias na maioria dos casos. Descobrimos em poucos dias que ela não era um bebê “comum”; mamava exclusivamente leite materno e mesmo assim chorava (gritava) muito e tinha refluxos que não a deixavam dormir. Com 10 dias de vida, ainda sem imaginar o que ela poderia ter, fiz uma canjica e comi. Ela gritou por 3 horas sem parar, suava frio, rosto inchado e vermelho. Foi aí que meu marido teve um start de pensar no leite.
Começamos por conta própria a diminuir o leite do meu consumo. E, assim, ela foi melhorando.
Com menos de 1 mês de vida, em tratamento com a pediatra, já tínhamos descoberto alergia a 3 alimentos: leite, ovo e trigo. As alergias a outros alimentos foram descobertas ao longo do tempo com o diário alimentar e comportamental (eu mesma resolvi fazer, para entender o que era reação e o que era comum nos bebês). Eu anotava a hora e o que eu comia em um diário e a hora e o que ela apresentava de mudança de comportamento, fezes, manchas etc. em outro.
Ela também reagia a traços via leite materno, então foi relativamente fácil saber a qual alimento ela tinha alergia.
Eu tive que inventar coisas para eu poder comer. Se não eu viveria de arroz, legumes, salada e chá. Comecei a fazer receitas na internet. E cursos específicos para aprimorar as comidas. O nome da DaLu Sem Leite veio da Bia, minha filha mais velha, ela sempre falava “mãe esse é da Lu”. Comecei vendendo para vizinhas do condomínio e agora consigo atender a cidade de Sorocaba inteira.
Hospital e inclusão
Quando ela estava com 8 meses, teve uma hipotermia que durou horas sem outro sintoma aparente. Hipotermia é quando a temperatura corporal cai de forma repentina a um nível abaixo de 35ºC. Aproveitei que levei a mais velha para a escola e passei no PS do hospital, achando que seria coisa rápida.
Eu ainda amamentava e também fazia a dieta de exclusão. Tinha na bolsa uma maçã e um chocolate (para mim), acreditando que levaria algumas horas e logo estaríamos em casa. Depois de vários exames, não acharam a causa da hipotermia, falaram que precisariam interná-la por suspeita de meningite.
Entrei em pânico por 2 motivos: por medo de ser meningite e por pensar em como eu faria com ela internada, o que eu iria comer, o que eu iria dar pra ela? Na época, eu não sabia que existia a Mandala.
Conversei muito para não internar e não teve jeito. Internamos.
Na hora da internação, eu chamei a enfermeira chefe do setor e contei das alergias e que eu não poderia comer nada que fosse servido e nem dar à minha filha.
Ela falou com mais umas 3 pessoas e, quando vinham falar comigo, eu mostrava um relatório da pediatra com todas as alergias da Luana (documento que carrego na bolsa junto com o Plano de Ação e as medicações). A pediatra também se mostrou disponível para ir ao hospital conversar sobre o caso da Luana.
Autorizaram então meu marido a levar minha comida ao hospital.
Ele fazia em casa e me levava 2 vezes ao dia.
Eu só comia a banana do hospital e a água da garrafa. Ficamos internadas por 2 dias e não descobriram a causa da hipotermia.
Foi uma experiência estressante, mas por outro lado menos difícil do que eu imaginei, porque tive abertura, sem questionamentos, de levar comida para dentro do quarto.
Não espero passar por isso novamente, mas fico aliviada em saber que posso levar comida de fora para ela consumir dentro do hospital.
Hoje, ela tem 2 anos e meio e já está apresentando tolerância a alguns alimentos.
Com 1 ano, ela passou a tolerar traços e grãos. E com 2 anos começou a tolerar ovo e mel.
Seguimos confiantes na cura e lutando por um mundo onde os alérgicos tenham o respeito necessário dos estabelecimentos, para se sentirem seguros em consumir alimentos fora de casa.
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