Flávia Ribeiro Nunes Pizelli
Nos últimos 10 anos o mundo mudou bastante. Eu e minha família somos prova viva disso. Ainda encontramos muitas dificuldades sociais e alimentares como uma família alérgica, mas não posso negar que muita coisa mudou e melhorou! Temos experimentado desde campanha de marca mundial de guloseimas com frases inspiradoras em palitos de picolé incentivando a inclusão, até hotel que se dispõe a fornecer comida livre de alérgenos mediante entrega antecipada de lista de ingredientes. Sem falar que não é mais uma raridade encontrar escola com profissionais que não te olham como se você fosse um extra terrestre e que por isso apresentasse necessidades alimentares especiais.
Alguns podem dizer, mas vocês estão avançando porque você fala muito sobre isso! Sim, eu falo. Falo exaustivamente. Sou “a chata da alergia” e não me incomodo com este título. Acredito que falar é uma forma de conscientizar e tornar o mundo mais seguro. Mas na verdade as coisas estão mudando para muita gente porque em geral estamos mais conectados uns com os outros. O mundo virtual nos facilitou essas conexões.
Há pouco mais de 10 anos os grupos eram por e-mail e timidamente foram surgindo os de mensagem e de redes sociais. Os rótulos dos alimentos eram mais confusos e o grupo de mães do Movimento Põe no Rótulo ainda não tinha conseguido as mudanças que conseguiu, pra todos nós. Mas ainda é tempo de estarmos alerta e vigilantes com tudo. Os avanços só chegam porque as pessoas se conectam umas às outras em prol de uma causa única. E essas conexões precisam aumentar, cada vez mais.
Há 10 anos os meus filhos mais velhos ainda eram classificados como bebês. O do meio tinha um aninho e o mais velho três. A mais nova eu nem sonhava em ter. E agora eu vou me ater a eles, o pré-adolescente e o adolescente. Parece até mentira! Eles cresceram e estão no grupo de alérgicos que não recebeu alta aos três, aos cinco, aos sete, aos nove, aos 11 ou aos 13 anos. Eles têm muitas ideias próprias. Em pouco tempo a geração deles vai assumir o mundo. Serão os profissionais das mais variadas categorias, serão os pais que terão filhos nas escolas. Estarão no comando, como nós estamos, e convivendo com outras gerações mais velhas que ainda também permanecerão nas lideranças. Infelizmente na maioria das vezes os líderes não sabem o que é ter qualquer necessidade especial.
Eu como mãe vejo que a condição dos meninos não é incomum, muitos alérgicos estão permanecendo cheios de restrições alimentares e algumas muito sérias, mesmo com o passar dos anos. Não é uma questão só de crianças. Mas apesar de estarem crescidos os meninos não tem muitos amigos com restrições, alérgicos ou não. Em Campos, onde todos nós nascemos e moramos até 2018, eles tinham alguns amigos alérgicos na escola, que por ter apresentado uma postura inclusiva, atraiu muitos iguais a eles.
Atualmente sabemos de outros adolescentes alérgicos alimentares, mas eles não trocam experiências, não estão conectados. Outro dia num grupo de pais, numa rede social, eu vi uma mãe perguntando sobre grupos de crianças ou adolescentes alérgicos. Eles existem? Eu não conheço. Conversei com algumas outras mães, entre elas a Bianca aqui do Conexão Alimentar e a psicóloga Erika Campos Gomes, que também é colaboradora aqui. Nenhuma de nós sabe de nenhum grupo onde eles possam estar reunidos entre iguais. Mas a ideia parece tão coerente! Como não pensamos antes? Ora, não pensamos por que eles não eram grandes!!!!
Perguntei aos meus meninos o que eles achavam. Imediatamente disseram que adorariam estar num grupo onde outras pessoas também fossem alérgicas. Bianca perguntou ao Lucas, filho mais velho dela que inspirou o Conexão. Na fala dos três as palavras inclusão, companhia e troca estavam presentes. Então porque não criar um grupo para que eles exercitem o compartilhamento de lutas, experiências, receitas de comidas, vídeos que gostam, jogos, alegrias e até tristezas? Então este texto todo é para refletirmos sobre mobilização social, sobre conexões para que o mundo da gente melhore e com isso o mundo como um todo avance.
Quem conhece um alérgico alimentar com mais de 9 anos que gostaria de participar? Deixe um recadinho aqui nos comentários ou no formulário! Em breve teremos novidades para contar!
Flávia Ribeiro Nunes Pizelli – mãe há 13 anos de Pedro, de Joaquim há 11 e de Maria há quase seis. Jornalista há 22 anos.
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