Por Bianca Kirschner
A volta às aulas traz novos desafios para as famílias com crianças com restrições alimentares. É um novo ano escolar que se inicia com novos professores e algumas vezes novos coleguinhas.
Conversamos e pedimos dicas para 4 mães mobilizadoras na causa de alergias alimentares, para elas compartilharem com a gente como que fazem para lidar com esse retorno ou início das aulas.
Adriana, Aline, Ana e Elisabete contam suas histórias de coragem, dedicação e muita criatividade e amor.
O resultado foi bem bacana e você acompanha nessa reportagem especial.
Disseminação de conhecimento: esta é a conexão para um mundo mais inclusivo para os alérgicos alimentares.
Adriana Costa Roriz
Goiania-GO
Nutricionista
@adrianacosta.nutri
Mãe de um menino de 8 anos que possuía alergia alimentar múltipla, mas hoje está tolerante. Adriana era personal trainer/educadora física quando o filho teve diagnóstico de alergia alimentar múltipla; aos 3 anos, tinha alimentação quase exclusiva com uma fórmula de aminoácidos livres. Decidiu voltar a estudar e ingressou no curso de nutrição para se especializar na área.
Dicas para a volta às aulas
– A família da criança alérgica sempre deve avisar a direção da escola e os professores sobre a alergia alimentar do(a) filho(a).
– É importante avisar também outras mães e famílias, alertando sobre as possíveis reações e riscos.
– Esses contatos devem ser feitos através de grupos de WhatsApp para envio de informações ou em um encontro na sua casa para conversar sobre alergias alimentares.
– Peça que, se for possível, escola/professor avisem com antecedência sobre aniversários ou outras comemorações para que você possa se preparar e de alguma forma e incluir seu(sua) filho/filha na comemoração, mandando alimentação similar para seu(sua) filho(a).
– Ao fazer isso, com o tempo, algumas mães já se prontificam a mandar um lanche especial para o seu filho no dia da festinha.
Aline Vieira Barra Maia
Campos dos Goytacazes – RJ
Fisioterapeuta
@delicias_da_nine
Casada com alérgico alimentar, mãe de 2 filhos também alérgicos, confeiteira inclusiva, criadora e proprietária da Delícias da Nine, 40 anos, alérgica alimentar múltipla e muito feliz.
“Fui diagnosticada aos 23 anos. São mais de 17 anos de dieta, testando receitas e mais receitas. Entre erros e acertos, cheguei em receitas perfeitas criadas e adaptadas por mim de acordo com as restrições do meu filho, que eram muitas. Conheci meu marido aos 27 anos e logo descobri que ele também era alérgico alimentar. Parecia o destino unindo 2 alérgicos para caminharem juntos com restrições e receitinhas caseiras deliciosas. Em 2009, quando eu estava com 30 anos, nasceu meu primeiro filho, também com alergia alimentar. Em março de 2017, de tanto as pessoas pedirem e elogiarem minhas delícias, eu resolvi criar a Delícias da Nine.”
“Atendemos às mais diversas restrições, o importante é incluir alérgicos, celíacos e intolerantes.”
“Produzimos tudo sem lácteos, sem glúten, sem soja e sem ovo. São quase 3 anos realizando sonhos e incluindo crianças e adultos. Descobri uma nova profissão que me realiza vendo pessoas mais felizes através das minhas delícias. Em 2019, nasceu minha filha e ela também é alérgica alimentar. E assim vamos caminhando com muitos desafios e muitas vitórias, graças a Deus.”
Dicas para a volta às aulas
– Enviar lanches para a criança alérgica compartilhar com os amiguinhos.
– No aniversário da criança alérgica, só colocar coisas que ela possa comer para que ele veja que os amigos também gostam do que ele come e assim ele se sente incluído no ambiente.
– Cuidado com tintas: canetas e massinhas porque podem conter alérgenos e causar uma reação grave.
Ana Daniela Canindé
Manaus – AM
Socióloga
@dani_caninde
Mãe do João Fabrício (12 anos) e do Daniel Henrique (9 anos).
“Os amores da minha vida! Acredito e luto por um mundo mais consciente e inclusivo. Alergia alimentar é algo sério e merece atenção, carinho e respeito. Sejamos luz!”
“Daniel tem alergia à proteína do leite de vaca (APLV), frutos do mar (ambas grau máximo), alergia a ovo (moderada) e é sensível a traços e cheiro.”
“João tem alergia a corantes artificiais, principalmente ao tartrazina, alimentos enlatados e alguns tipos de conservante.”
“Ambos têm outras alergias não alimentares também, como as respiratórias e de contato.”
Dicas para a volta às aulas
– Antes das aulas começarem, o mais importante é conversar com os professores, equipe pedagógica e demais profissionais que acompanharão a criança na escola; levar a conscientização sobre a alergia e informações sobre cuidados e principalmente a inclusão dessa criança nas atividades escolares, festinhas, aulas de culinária, etc.
– Preparar uma pasta contendo laudo médico, exames, plano de ação em caso de “acidentes”, orientações sobre o uso da adrenalina autoinjetável, cópia do cartão do plano de saúde, cópia do RG, contato do pediatra e dos responsáveis e informativos com opções de substituições em determinadas atividades escolares e culinária (leite, ovo…).
– Sempre levar na mochila uma bolsinha com os medicamentos (corticoide, antialérgico, adrenalina, outros).
– Orientar tanto a criança quanto a escola, professores e demais funcionários que a mesma só poderá consumir o que levar na lancheira, caso a escola não dê garantias quanto à segurança dos alimentos lá fornecidos (o que costuma acontecer).
– Entrar em contato com os fabricantes de material escolar (massa de modelar, tintas, giz de cera…) e confirmar por e-mail quais são os “limpos” e que podemos usar com segurança.
– Conversar com a professora sobre as atividades em sala de aula que apresentam possíveis riscos, principalmente culinária e materiais recicláveis (caixa de leite, de ovos, embalagens de iogurte…).
– Solicitar aviso com antecedência sobre festinhas e lanches coletivos para poder providenciar algo seguro para a criança comer e confraternizar com os colegas. A ajuda dos outros pais nesse sentido também é importante, então aproveite as reuniões de pais/escola para abordar o assunto; eles costumam ser bem solidários.
– Fale sempre de inclusão, tentando mostrar à escola o quanto é importante o cuidado de não separar a criança dos colegas nas festinhas ou durante o lanche, tentando adaptar o ambiente com segurança e acolhimento. Se todos tiverem mais empatia, o mundo com certeza será um lugar melhor.
Elisabete Silva
ABC Paulista
Administradora de empresas, atua em recursos humanos
@bete_novoolharaplv
Mãe de Aline, 22 anos, alérgica à picada de formiga, e Murilo, 05 anos, alérgico à proteína do leite de vaca (APLV).
“Luto por conscientização e inclusão para quem convive com APLV. A falta de informação é imensa. Hoje, tem o conhecimento da intolerância à lactose e quase nada da alergia à proteína do leite de vaca. Precisamos urgente dessa conscientização. Hoje, não temos uma lei que nos ampara, como a Lei de Lucas, que obriga funcionários e professores a se capacitar em primeiros socorros (sancionada em 2018, a lei nº 13.722/2018). Da mesma forma, deve-se saber identificar reações alérgicas e o treinamento da aplicação da adrenalina autoinjetável. Essas e outras são minhas batalhas para tornar lei.”
Dicas para a volta às aulas
– Ter a consciência do grau da alergia do seu filho. Sabemos que tem alérgico que reage ao toque ou cheiro.
– Ter o plano de ação, que é individual. Conversar sempre com seu filho. Ensiná-lo a questionar, a falar da sua alergia.
– Ter na primeira semana de aula algo que identifica a criança alérgica (para alertar todos da escola – administrativo/ amiguinhos/professores/cozinheiras).
– Conversar com todos da escola, principalmente com a nutricionista e todos envolvidos no preparo das refeições, até o responsável da compra dos alimentos.
– Obter informação sobre alimentos, receitas novas e alimentação que não podem mais por conta da alteração das indústrias; é necessário ter essa troca.
– Utilizar o grupo de WhatsApp com as mães da sala de seu filho. Conseguimos informar, ajudar e saber das festinhas.
– Sempre ter em mente: união de todos faz toda diferença.