Bianca Kirschner
Me chamo Bianca Kirschner e sou mãe de dois meninos, Lucas, de 8 anos, e Felipe, de 3 anos. A chegada do Lucas foi planejada e cheia de expectativas. Amamentei exclusivamente por 6 meses até começar introdução alimentar, primeiramente de frutas e posteriormente de legumes, e na primeira sopa que fiz com massa, quando ele tinha 7 meses de idade, ele teve angioedema nas pálpebras. Logo que ele terminou de almoçar, ele tossiu e achamos que ele queria chamar atenção, mas, quando vimos as pálpebras inchadas, percebemos que algo errado estava ocorrendo.
Não houve um diagnóstico de alergias alimentares nesse momento, mas por instinto de mãe e após conversar com outras mães, não demos mais nada com glúten. Aos 12 meses, consultamos um alergista, pois às vezes após segurar algumas bolachinhas e não comer as mesmas, ele ficava com as pálpebras vermelhas. Vale salientar que morávamos em Londres na época e não tínhamos acesso a médicos especialistas e várias consultas foram com os médicos clínicos que sugeriram evitar o que estava causando alguma alergia.
Após vários “surtos” maternos, tive a oportunidade de fazer um exame e descobrimos que Lucas era alérgico a trigo, cevada, centeio, ovo, aveia, amendoim, gergelim e leite; para os últimos 3, fizemos testes de provocação oral e ele tolera. Caneta de adrenalina? Nunca tinha ouvido falar. Contato cruzado? Nunca tinha ouvido falar.
Ainda recordo meu caminho de volta para casa após consulta com nutricionista sobre opções de comida. Como explicaria tudo isso para a família? Na época, nem me preocupei como seria educar o Lucas sobre tudo isso e nem sequer me dei conta da grande transformação de dinâmicas de socialização, de casal, de VIDA que estavam surgindo a partir desse diagnóstico.
E assim começou nossa luta em busca de conhecimento, inclusão e empatia. Sonhávamos com o segundo filho, mas esperamos 5 anos para nos sentirmos aptos a ter mais um filho com medo que ele também fosse alérgico. Felipe, hoje com 3 anos, não tem nenhuma alergia alimentar.
Já são 8 anos, alguns deles bem difíceis, buscando que Lucas tenha a oportunidade de ter uma rotina normal, mas que requer muito planejamento no dia a dia, desde a comida até os cuidados na escola, com quem ele vai ficar quando não estamos em casa, se a pessoa sabe aplicar a caneta de adrenalina, se amigos não irão brincar ou encostar em algo que tenha traços dos alérgenos dele.
Hoje, Lucas lê os rótulos, explica muito tranquilamente sobre suas alergias e também sabe aplicar seu remédio se necessário. Mas esse conhecimento também tem um lado duro, pois afeta a vida social do Lucas e traz inseguranças, como sentar num banco de praça que não parece estar totalmente limpo ou abraçar alguém.
Através de experiências e de dificuldades já superadas, aprendemos que se relacionar com pessoas que vivem de maneira similar à nossa e que também convivem com alergias alimentares nos fortalece e ameniza a nossa dor. No Brasil, sentimos uma dificuldade em apoiar causas relacionadas a alergias alimentares e por isso criamos o Portal Conexão Alimentar.
Achamos que há muito conteúdo médico e pouco conteúdo consolidado que incentive o olhar para essa comunidade de uma maneira mais humana, focando não somente na dieta do alérgico, mas também nos relacionamentos pessoais, profissionais e sociais de todos que convivem com um alérgico.
A criação do portal e da plataforma online pretende implementar uma comunidade para que pessoas e famílias envolvidas com o tema possam encontrar material confiável para consulta, além de incentivar a conexão de pessoas, pois, quando me dei conta que não estava sozinha e que outras famílias entendiam o que eu estava falando, percebi que isso nos fazia muito bem.
Publicado originalmente https://celiaceliaca.com
Bianca Kirschner,
Consultora de Viagens com Alergias Alimentares
Mãe de Lucas e Felipe,
é criadora e diretora
da plataforma Conexão Alimentar