Estresse e ansiedade em alérgicos e familiares

A alergia alimentar vem aumentando consideravelmente nas últimas décadas, afetando um significativo número de crianças, adolescentes e adultos. Suas formas de gerenciamento que envolvem evitar o contato com o alimento alergênico e a identificação e a gestão adequada de tratamento dos sintomas de reação, podem produzir um impacto emocional significativo tanto das pessoas alérgicas quanto em seus familiares e cuidadores.

Inúmeros são os desafios que as famílias e os alérgicos precisam enfrentar após o diagnóstico! A aprendizagem sobre rotulagem e produtos seguros, a procura de receitas diversificadas, a manutenção da dieta restritiva, o estabelecimento de novas formas de viver e de relacionar entre si e com todo o meio social em que se está inserido – família, escola, amigos, viagens…. – São alguns exemplos que podemos citar.

Aliados a todas essas mudanças no estilo de vida, o receio de um contato acidental e de ocorrência de episódios de anafilaxia, a necessidade da realização efetiva da dieta de restrição e a vigilância constante para se evitar o alimento alergênico geram um impacto significativo tanto das atividades diárias quanto na qualidade de vida de toda a família.

Todo este contexto contribui para o aumento do estresse, da ansiedade e do sentimento de viver com medo e com risco de uma reação inesperada. Podendo ocasionar, em alguns cuidadores e em crianças e adolescentes alérgicos grande sofrimento psíquico, depressão, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de estresse pós-traumático.

Os cuidados relacionados à alergia dependem do gerenciamento, do manejo das pessoas que cuidam das crianças, sendo necessária, portanto, uma parceria afinada entre os cuidadores para garantir a segurança dos alérgicos. No entanto, nem sempre se consegue entrar em acordos de forma tranquila em relação às ações que precisam ser tomadas para evitar o alérgeno e conflitos relacionais podem surgir. Com isso, a relação entre os pais, com os irmãos, com os avós e amigos pode ficar fragilizada e distante, tornando-se um complicador adicional para a vidas das famílias que vivenciam a alergia e que já precisam lidar com tantas demandas em sua vida cotidiana.

Quando refletimos sobre alergia alimentar e suas formas de manejo, precisamos ter um olhar multidisciplinar!!! E compreender todo o contexto que envolve o alérgico e seus cuidadores, todos os aspectos da vida que podem ser impactados, e os efeitos emocionais e relacionais precisam ser amplamente considerados!

O acompanhamento psicológico é um importante recurso para auxiliar as famílias que convivem com alergia alimentar em diversos aspectos emocionais e relacionais. Pode facilitar o enfrentamento; ajudar na construção de estratégias para lidar com todas os desafios impostos pelo gerenciamento da alergia; oferecer suporte e acolhimento em um momento delicado na vida das famílias; auxiliar no reconhecimento dos sentimentos em relação à alergia e em como lidar com os mesmos de forma a diminuir o sofrimento emocional; colaborar para a diminuição de conflitos inter-relacionais que possam ter sido desencadeados a partir das demandas de cuidado; prevenir o aparecimento de depressão, ansiedade ou de recusa alimentar quando o suporte psicológico é oferecido no início do
diagnóstico.

Enfim, o psicólogo, pode contribuir para o estabelecimento de uma melhor qualidade de vida para toda a família e realizar um papel preventivo importante,
diminuindo o risco de aparecimento de alguma dificuldade emocional mais delicada. Auxiliando a criança, adolescente ou seus cuidadores a seguir a vida a despeito da alergia e não em função dela.

Preocupações que afligem crianças com alergia alimentar:

  • Evitar comidas que podem comer ou fazer dietas nāo necessárias;
  • Isolamento social durante atividades de rotina;
  • Bullying;
  • Sintomas de TEPT – Transtorno de estresse pós-traumático;
  • Medo de visitar médicos;
  • Sentar em lugares que nāo tenham sido limpos anteriormente.

Preocupações que afligem os pais de crianças com alergia alimentar:

  • Medo de restringir a vida social do filho;
  • Medo de restringir ainda mais a dieta;
  • Medo de deixar sua criança sob o cuidado de outras pessoas.

FONTE: My Life with Food Allergies / Parent Survey Report

Érika Campos Gomes
Doutoranda e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Graduada em Psicologia pela PUC-MG em 2001.

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