Bianca Kirschner: criadora do Conexão Alimentar

Bianca: criar oportunidades de conexões com outras pessoas com alergias alimentares.

A criadora e diretora do portal Conexão Alimentar, Bianca Kirschner,  deu uma entrevista exclusiva para a revista Nice, que publicamos aqui no portal com exclusividade.

– Qual foi sua inspiração para a criação do Portal Conexão Alimentar?

Bianca Kirschner – A ideia de criar algum projeto relacionado a alergias alimentares já está há muito tempo na pauta das minhas conversas com meu esposo, familiares e com alguns amigos próximos.

Afinal, já são 8 anos convivendo com alergias alimentares devido nosso filho mais velho, Lucas, que tem alergias severas a trigo, cevada, centeio e ovo.

Nossa família morou por muitos anos no exterior e desde que voltamos para o Brasil temos sentido dificuldades em apoiar causas relacionadas a alergias alimentares por aqui. Hoje, quando pesquisamos sobre essa comunidade, vemos muito conteúdo médico, mas pouco conteúdo de como educar nosso filho e também para nós pais sobre as próximas etapas da vida do nosso filho, como adolescência, ida a faculdade e saída com amigos convivendo com alergias alimentares.

Como sou curiosa, até tenho achado materiais, mas não estão consolidados em um local de fácil acesso ou muitas vezes tratam do assunto de uma maneira muito superficial. Então, a inspiração, dessa forma, veio diretamente do nosso dia a dia. Acreditamos que através de um portal online teremos inúmeras possibilidades de conexão. Queremos ser parceiros de quem hoje já luta pela inclusão e conscientização.

Queremos incentivar o olhar para essa comunidade de uma maneira mais humana, focando não somente na dieta do alérgico, mas também nos relacionamentos pessoais, profissionais e sociais de todos que convivem com um alérgico.

– Qual a sua expectativa em relação à aceitação desse projeto?

Bianca Kirschner –  São várias as expectativas.

Queremos muito ajudar outras famílias através do compartilhamento de algumas das nossas experiências pessoais, de maneira que talvez amenize o sofrimento de algumas pessoas recém diagnosticadas ou que buscam mais conteúdo quanto a esse tópico. Os profissionais nos orientam e lemos sobre o que precisa ser feito, porém, como já esperado, colocar na prática foi e é diferente. Além disso, alergias alimentares se manifestam em pessoas de todas as classes sociais. Ou seja, um cuidado que considero tranquilo gerenciar pode não ser tão fácil para outras famílias. Desejamos que o projeto ajude a guiar as famílias sobre como e onde buscar mais ajuda.

Depois, é conectar pessoas, pois quando me dei conta que não estava sozinha e que outras famílias entendiam o que eu estava falando, percebi que isso nos fazia muito bem.

Também sentimos a necessidade de mostrar para as outras famílias de alérgicos que com educação e planejamento outras pessoas também podem cuidar dos nossos filhos alérgicos. Muito do material existente mostra a visão das mães, mas também queremos escutar os pais e os irmãos não alérgicos que também precisam de atenção.

E, por último, também desejamos através do portal educar a comunidade não alérgica, pois as escolas, os restaurantes e os hospitais, ou seja, a comunidade em geral, também precisa se preparar para aumentar a inclusão dessa comunidade que cresce.

– Sabemos também que o Lucas, um dos seus filhos, está bem entusiasmado com o projeto. Pode falar um pouco disso e da relação dele com a situação de alérgico?

Bianca e Lucas: aprendendo no dia a dia a conviver com alergia alimentar.

Bianca Kirschner –  Ele está bastante animado e participa do projeto dando ideias. O Lucas, assim como eu, é curioso e criativo.

Hoje, Lucas, com 8 anos, lê os rótulos, explica muito tranquilamente sobre suas alergias e também sabe aplicar seu remédio se necessário. Mas esse conhecimento também tem um lado duro, pois afeta a vida social do Lucas e traz inseguranças, como sentar num banco de praça que não parece estar totalmente limpo ou abraçar alguém.

Com o olhar do Lucas, queremos disseminar informações e incentivar outros alérgicos a lutarem por seus direitos de inclusão, pois são eles que vivem isso na pele, no dia a dia. Precisamos escutar o que eles têm a dizer.

– Vejo que você tem muitas ideias futuras em relação ao projeto. Pode falar um pouco delas?

Bianca Kirschner –  Além de consolidar informações e conectar pessoas, também queremos criar nossas próprias ações e nossos próprios conteúdos. Recentemente, Lucas participou de um grupo de apoio online e isso o ajudou muito. Ele se conectou com crianças da sua mesma faixa etária e percebeu que existem diferentes tipos de alergias. Juntos, eles conversaram sobre seus medos e juntos também trocaram ideias de como fazem para vencê-los. Adoraríamos um dia iniciar um projeto assim aqui no Brasil.

A outra ideia é gerar informação através de vídeos educativos que possam ser usados para auxiliar na educação do alérgico e da família quanto a alergias alimentares, mas que também possam ser usados em escolas, faculdades e restaurantes.

– Qual a mensagem que você pode deixar para famílias que possuem membros alérgicos?

Bianca Kirschner – Vou compartilhar algo que tem ocorrido com a gente. Quanto mais buscamos aprender sobre alergias alimentares e quanto mais lemos e conversamos com outras famílias que também possuem filhos(as) com alergias alimentares, mais fortes nos sentimos. Dividimos experiências e, dentro dessas oportunidades, crescemos. Aprendemos e ensinamos como evitar reações alérgicas, como planejar um passeio, como ir na escola conversar com os responsáveis.

A gente passa a se sentir menos sozinhos e essa troca de conhecimento nos fortalece para às vezes planejar uma atividade até então nunca feita ou para ser agente de transformação em algum novo ambiente.

Então, tentem participar de atividades/encontros perto da casa de vocês com outras famílias de alérgicos, apresentem para os filhos alérgicos de vocês outras crianças alérgicas, organizem um grupo/encontro se ainda não tiver nada próximo da casa de vocês, compartilhem aquilo que vocês já aprenderam e se conectem. Vocês irão perceber que não estão sozinhos.

– Na sua opinião, o que os estabelecimentos como restaurantes, docerias, lancherias, bares, hotéis, e mesmo aeroportos, hospitais, etc. podem fazer a mais para essas milhares de pessoas que são alérgicas a vários tipos de alimentos?

Bianca Kirschner –  Primeiramente, adquirir conhecimento sobre alergias alimentares e saber quais os ingredientes dos produtos que eles oferecem.

Seria ótimo ter opções em cada um dos estabelecimentos, mas sabemos que isso pode ser difícil, já que a lista de alérgenos é grande. E mesmo tendo opções, os estabelecimentos precisam adquirir conhecimento para a manipulação dos mesmos, para evitar contato cruzado.

Mas cada estabelecimento deveria ter pelo menos um cardápio com a lista de todos os ingredientes por prato com os alérgenos e possibilidades de traços ou contato cruzado e um profissional que pudesse nos orientar sobre possíveis escolhas do que comer.

Entrevista ao jornalista Manoel Fernandes Neto

Para a nutri Valeska De Costa, “olhos bem abertos” são essenciais para segurança alimentar

Valeska De Costa: desafio é adequar as receitas para cada caso e não ter a contaminação Leia mais

Daytona Hodson: experiências de um adolescente vivendo com alergias alimentares

Entrevistado por Bianca Kirschner Eu e Lucas conhecemos Daytona e seu pai, Eric Hodson, em Washington, DC, em outubro passado, Leia mais

A força de novos saberes e novos sabores

Entrevista com Lidiane Barbosa, do Projeto Crescer e Semear Lidiane Barbosa quer fazer uma revolução com a Alimentação Saudável. Com Leia mais

Entrevista: Sarah Lazaretti, da Alergoshop

"Uma coisa que acho importante é a conscientização, por exemplo, de bares e restaurantes, entenderem a Leia mais