Por Flávia Ribeiro
Com a necessidade do isolamento social, imposto pela pandemia de Covid 19, que foi declarada no Brasil em março de 2020, todos nós entendemos a necessidade que o humano tem de interação e contato com seus iguais, certo? Bom, muitas famílias alérgicas vivem esse isolamento desde antes do início da crise sanitária.
São famílias inteiras que temendo reações graves não saem de casa para passear, visitar amigos e familiares, ir ao cinema, teatro, mercados, parquinhos e afins. Mas é preciso sair. Mesmo com a pandemia eu acredito que temos que traçar planos seguros e seguir as medidas de combate ao vírus para mantermos o que for possível.
Semana passada, conversando com a Érika Campos Gomes, psicóloga que pesquisa os impactos sociais da alergia alimentar e é colaboradora do Conexão, soube que em sua prática clínica ela atende crianças que não interagem com outras, não sabem lidar com outros da mesma idade simplesmente porque não frequentam ambientes típicos para a sua idade.
“Temos que buscar outros focos de diversão e socialização que não incluam a comida. Se não dá pra ir a casa dos amigos e familiares, convide para a sua casa e defina o cardápio. O contato e a interação familiar precisam ser mantidas”, alerta a psicóloga.
Interação e sanidade
A ideia de que algumas crianças não estão conhecendo outras ficou martelando na minha cabeça. Então conversando com a Bianca Kirschner, criadora da plataforma, resolvemos escrever sobre o assunto dando dicas do que podemos fazer para sairmos com os alérgicos, mantendo a sanidade mental e a interação social.
Aqui em casa já deixamos de ir a alguns lugares para evitar reações, mas sempre tivemos em mente que a alergia não ia limitar a vida dos nossos filhos, não ia ser motivo para deixarmos de viver. Então se não podemos ir a pizzarias vamos a outros lugares. Se não dá pra ir a um restaurante, mas com pesquisa sempre fomos, fazemos outro programa, que não tenha o foco na comida.
Então resolvemos dar algumas dicas que, com mais de uma década convivendo com a alergia, já desenvolvemos e talvez possam te ajudar a fazer alguma aventura com o seu alérgico.
Para a minha família tudo sempre foi uma questão de adaptação e planejamento e eu garanto que isso sempre dá certo. Por exemplo, nunca deixamos de viajar, quando não dá pra ficar num hotel a gente procura um lugar que tenha cozinha. Levamos congeladas e prontas as carnes, bolos e pães, algumas guloseimas seguras e compramos no local onde vamos as verduras, legumes e frutas. A gente não fica sem fazer nada, mas a gente sai da rotina e se diverte.
40 marmitas em um vôo
Quando é só um fim de semana levamos as marmitas prontas, congeladas e guardo no frigobar do quarto ou na geladeira da cozinha do hotel. Para um sábado e domingo, com três crianças, a gente leva seis marmitas de almoço e jantar. Mas isso nunca foi um peso pra nós.
Uma vez, levamos para um fim de ano mais de 30 marmitas congeladas. Em outra viagem, mais de 40 num vôo com escala, mas eu garanto que isso não é tão louco quanto parece e que pra nós vale muito a pena conhecer lugares e culturas novas ou velhas. Adoramos museus, prédios históricos e passeios ao ar livre.
A gente sempre leva uma mochila de comida e uma de remédio. Prevenir é sempre melhor que remediar e passear é um respiro pra alma! Espero que você que não sai de casa, ou sai muito pouco, consiga praticar algumas das nossas dicas. Tenha em mente que tudo é uma questão de planejamento. Boas aventuras!
Dicas para passear de forma segura:
- Leve medicamentos de emergência e documentos para todos os lugares (até hoje temos a mochila de remédios e documentos);
- Leve marmitas e lanches seguros sempre;
- Visite museus de arte e história (mesmo crianças pequenas costumam gostar destes ambientes);
- Faça piqueniques em parques e praças públicas;
- Vá a praias de água doce ou salgada levando comida e bebida segura;
- Em viagens maiores que dois dias escolha hospedagem com opção de cozinha (ano passado foi a primeira vez que ficamos num hotel que fez a comida deles);
- Faça passeios de bicicleta ou caminhadas;
- Faça expedições fotográficas (com o celular mesmo) por jardins em busca de flores e insetos;
- Explore ruas do centro da cidade observando os prédios (aos fins de semana costuma ser uma boa opção);
- Procure grupos de apoio e se possível ajuda psicológica para lidar da melhor forma com a condição de vida alérgica;
- Enquanto não tem segurança para ir longe planeje saídas perto de casa, mas vá;
- Não espere por nada para viver. Logo sua criança será grande e a forma como ela viveu a infância vai refletir no adulto que será.
Abaixo uma pequena amostra dos passeios com minha turminha:
Flávia Ribeiro Nunes Pizelli, jornalista, |