Aproveite para ser feliz com a Alergia Alimentar!

Carnaval em São Paulo: Pedro e Joaquim com a prima Clara, chuva e a alegria de estarem juntos

Quem um dia recebeu diagnóstico de alergia alimentar de um filho já deve ter sonhado ou pelo menos pensado no dia em que recebesse o anúncio da cura.

Muitos pais, desde que descobrem o diagnóstico, decidem concentrar suas energias em busca da tão sonhada cura, do fim das dietas de exclusão de alérgenos, das marmitas, das idas às emergências de hospitais ou aos consultórios médicos, do fim dos medicamentos de emergência, dos planos de ação.

Mas a verdade é que cada vez mais a cura demora a chegar e também é cada vez maior o número de crianças que chega à adolescência com restrições alimentares e reações graves a determinados alimentos.

Então o que fazer? A psicóloga Erika Campos Gomes, que pesquisa os impactos sociais da alergia alimentar é clara: “é preciso viver a vida como ela se apresenta e enfrentando as peculiares que forem aparecendo. Os cuidados com a alergia não devem impedir ninguém de viver”, revela.

Eu posso dizer que sei o que é receber diagnóstico de alergia alimentar. Tenho três filhos alérgicos múltiplos. Pedro e Joaquim fazem aniversário em junho, o mais velho vai fazer 14 anos e o segundo 12! Ou seja, estamos fazendo a combinação alergia + adolescência. Maria em outubro vai completar sete anos! Ao que tudo indica ela também vai fazer a combinação segunda infância + alergia alimentar.

Primeira ida sem marmita a um restaurante

Mas isso nunca impediu que vivêssemos! Estamos vivendo de forma intensa! Conquistando memórias afetivas com as comidas, viajando, carregando marmitas, desbravando poucas trilhas em meio à natureza, fazendo campanhas de conscientização, ocupando espaço, fazendo terapia desde cedinho, sendo crianças e adolescentes!

Enquanto a cura não chega a gente segue a vida. Eu sinceramente não tive a ilusão de que eles chegariam ao ensino fundamental sem alergia alimentar. Eu tratei foi de ajudar as escolas a entenderem qual era a condição de quem tem alergia.

Conheço mães que estabeleceram datas em suas cabeças para a cura. “Eu esperava que com 5 anos meu filho pudesse comer um brigadeiro! Não comeu. Foi frustrante pra mim, mas fiz o máximo para não passar essa expectativa pra ele. A ideia é que nada pode o impedir de ser feliz, nem os fracassos, nem a alergia. Felicidade deve ser escolha. Então ele nem se liga mais”, ouvi de uma jovem dedicada aos filhos.

Mas numa roda de conversa de mães não é difícil achar quem sonha em chegar ao ensino fundamental livre das restrições impostas pela condição de vida alérgica. “Ainda espero. Minha filha faz 5 anos agora e tenho essa expectativa”, revelou a outra jovem que já enfrentou várias batalhas contra a alergia alimentar, inclusive anafilaxias.

Outra mãe de uma menina de sete anos que era alérgica a leite e a abacaxi conta como reagiu quando chegou ao ensino fundamental livre dos medos e da ansiedade da AA.

Quando a médica mandou testar, o primeiro sentimento foi medo e insegurança. Não disse isso nem para o marido. Levei mais um ano sem testar nada. Quando fomos a outra médica e depois de ver exames, ela mandou testar, aí foi um misto de sentimentos. Medo, alegria, expectativas… e ela não quis provar quase nada! – Contou rindo.

Há entre as mães de alérgicos, que conheço, as que renovam as expectativas depois da frustração. “Eu tive expectativa sim. A maior era comer pizza que ele adora (com glúten e queijo) e quando a médica liberou foi só alegria. Mas depois veio a grande decepção. Com o passar dos meses ele desenvolveu uma esofagite. Agora não faço mais planos, já nos acostumamos. Mas recentemente reacendeu a expectativa para quando entrar na adolescência”, revelou uma mãe.

Eu posso garantir a vocês que cada conquista é muito celebrada! Garantem mais segurança e mais qualidade de vida porque é uma restrição a menos, mas eu também garanto que é possível ser feliz e ter direito a bolo fofo, mesmo sem leite, sem soja, sem ovo, sem trigo, sem tanta coisa…

A comida é muito importante pra saúde, pra interação social e alergia mata, mas aqui na minha casa elas não definem a nossa alegria, nem limitam as nossas conquistas e escolhas. Então eu diria a vocês, se forem líderes de famílias alérgicas, que escolham o caminho da alegria e da resiliência com cura ou não. Não esperem nada, nem nenhuma data para serem felizes.

Flávia Ribeiro Nunes Pizelli, jornalista,
produtora de conteúdo e mãe de alérgicos!
E-mail: ribeironunesflavia@gmail.com

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