Qual é a experiência dentro das escolas que mantém em sua pauta uma relação proativa com as alergias alimentares? E os desafios diante de alunos e alunas alérgicos? O dia a dia, os relacionamentos?
Para podermos compreender ainda mais esse tema, entrevistamos a Nutricionista (CRN-34780) Ninodja Kadja Peixoto Nóbrega Teodósio, Mossoró/RN, @ninodja , que trabalha em uma escola que acolhe alérgicos alimentares com uma atuação enriquecedora.
Ninodja fala sobre inclusão, relacionamentos, protocolos, dia a dia, política de inclusão escolar, comunicação e conquistas, entra outros temas.
– Em sua opinião qual o maior desafio hoje na inclusão dos alérgicos alimentares no ambiente escolar?
O maior desafio na inclusão dos alérgicos alimentares no ambiente escolar é a seletividade alimentar dos demais alunos, sem alergias, pois muitos deles são acostumados com somente um tipo de farinha, leite e seus derivados e/ou alimentos industrializados. Então sempre existe a cobrança de um cardápio “mais semelhante a esse perfil”, algo que considero por vezes não necessário, pois os alunos que não possuem alergias alimentares já os consomem em casa em quantidades suficientes. O cardápio que abrange alunos com alergias alimentares representa algo positivo para toda a comunidade escolar, tendo em vista que ele indiretamente incentiva a variedade alimentar nos alunos e contribui para maior variedade de nutrientes consumidos.
– Quais os protocolos que você utiliza quando chega uma criança com alergia alimentar? Por exemplo: além do histórico, você procura conhecer a criança pessoalmente?
Sempre recebo os pais da criança na escola e faço uma pequena consulta, em que todo o momento é voltado para perguntas que me permitam conhecer os hábitos alimentares da criança, suas restrições e o quão grave é sua alergia. O segundo passo é estudar a necessidade de isolar utensílios, como, por exemplo, bucha de lavar louça e demais itens, para evitar a presença de traços.
Se a criança fica em período integral na escola e não pode ter contato de forma alguma com os alimentos, em consenso com a diretoria da escola, eu os retiro do cardápio. Se ela passa somente um período, eu modifico o cardápio para que em seu horário de refeição não estejam presentes itens que possam representar riscos. Os últimos passos dizem respeito a informar aos meus colaboradores todo o cuidado necessário a partir de agora e, finalmente, começar a acompanhar o horário da alimentação da criança na escola, para dar suporte, estímulo e passar para a família algum retorno sobre o seu dia que os permita sentir a criança em segurança.
– No seu dia a dia, como você lida com o tema alergia alimentar? Comente.
Eu tenho um carinho especial pelo tema, uma vez que em minhas experiências pessoais me deparei com a alergia alimentar por meio de familiares próximos, que me fizeram refletir sobre a importância de estudar o tema, através do desejo que eu tinha de ser alguém que poderia ajudar a tratar de um assunto que demanda conhecimento e, acima de tudo, compreensão e acolhimento. Convivendo com a alergia alimentar, nasceu o desejo de ajudar todas as famílias que me procurassem a passar por esse momento em seus lares. Para mim, o tema alergia alimentar tem muito a ser estudado dentro desse assunto e dentro desse cenário me considero inclinada para atuar cada vez mais nessa área, por saber de perto o que passam as famílias de crianças com alergias alimentares.
– Como é a política de inclusão alimentar da escola: direção, corpo docente, colaboradores, como funciona essa disseminação de informações?
Tenho a sorte de trabalhar em uma empresa que se preocupa em receber de braços abertos crianças com alergias alimentares e que de fato não mede esforços para tornar o ambiente o mais adequado possível às necessidades das crianças, motivo pelo qual a mesma é muito elogiada em nossa região. Eu conto atualmente com a participação direta e ajuda de todos os funcionários da escola, sempre muito solícitos em me ouvir e seguir todas as orientações, como conhecer a criança, ter os cuidados necessários e ajudar no que for necessário.
– Em sua opinião, o que ainda pode ser conquistado neste tema?
Ainda há coisas para serem feitas, não somente na escola, mas em toda a sociedade, que é o exercício da empatia pelo próximo. O cuidado com a pessoa alérgica, a quem muitas vezes podemos causar mal a ela sem a intenção, simplesmente falando próximo a ela após termos nos alimentado com algo para o qual ela possui alergia. Isso ocorre no local de trabalho, festas, serviços de alimentação e, no caso de crianças, nas escolas, pois muitas vezes além da criança não ter o entendimento de que não pode ter contato com certos alimentos, não podemos interferir nos lanches que as demais crianças querem trazer de casa e a escola precisa promover a inclusão, interação entre todos os seus alunos.
– Existe algum trabalho de comunicação sobre inclusão com os pais de filhos SEM alergias alimentares?
Havia o trabalho de comunicação com pais de crianças sem alergias e os de crianças alérgicas durante as reuniões de pais e mestres na escola, momento em que sempre o setor de nutrição participou ativamente. Além disso, havia o projeto de no momento das aulas de educação nutricional realizadas na escola, ser enviado aos pais materiais contendo o assunto tratado em sala de aula, em que a alergia alimentar e os cuidados com ela eram um dos assuntos mais debatidos em sala. Infelizmente, devido à pandemia, muitas crianças alérgicas saíram da escola por recomendações médicas, nesse momento em que se resguardar e cuidar da imunidade é essencial, o que fez com que o projeto de conduzir o assunto tratado na escola para os diversos lares tivesse que ter uma pausa.
Entrevista à Bianca Kirschner