A experiência de Keyce Camila com a APLV

Bianca Kirschner

Conversei com a Keyce Camila Curado, mãe de Lorenzo Rezende, de 3 anos, de Várzea Grande – MT. O filho tem alergia alimentar à proteína do leite de vaca (APLV).

Um importante depoimento para compreendermos todo esse processo de descoberta de uma alergia alimentar.

Você já tinha ouvido falar de alergias alimentares quando teve o diagnóstico do seu filho?

Não, nunca tinha ouvido falar. Na verdade, eu achava que alergia só existia de poeira, por exemplo (risos), mas eu entrei em um grupo de mães e lá algumas vezes eu vi relatos de mães com alguns sintomas dos filhos que eram parecidos ou iguais até aos que meu filho tinha. Para começar, logo nos primeiros dias meu filho apresentava alguns sintomas da alergia alimentar à proteína do leite de vaca, famosa APLV, mas eu como recém-mãe não imaginava o que tudo aquilo seria. Mas lendo algumas informações sobre alergia alimentar nesse grupo eu vi que os sintomas batiam, mas eu não queria acreditar, pois eu mal sabia o que era alergia alimentar!

Muitas vezes, o diagnóstico inicial não é preciso. Foi assim com vocês também?

Sim, foi exatamente isso, depois de desconfiar que meu filho tinha aqueles sintomas de ALERGIA A UM ALIMENTO, resolvi procurar um profissional, mas infelizmente tive várias tentativas frustradas de encontrar um profissional que entendesse o que realmente eram aqueles sintomas (SINTOMAS DE UMA ALERGIA ALIMENTAR) e que acreditasse em mim e nas minhas desconfianças.

Por diversas vezes eu saí de consultório sem diagnóstico e com meu filho cada dia pior. Até que, com 4 meses de sofrimento, prontos atendimentos por várias vezes, medo, insegurança, choros à noite, você ver seu filho passando mal e não saber exatamente o que ele tem – e pior, sem saber o que fazer para tirar todo aquele sofrimento de um bebezinho de apenas 4 meses – encontramos um diagnóstico. SIM, foi confirmada a tão temida APLV E SOJA, e começou a nossa luta.

Quais as maiores dificuldades ao ter que fazer uma dieta de exclusão?

Tive várias dificuldades até eu começar a me encontrar, estudar, ter ajuda de pessoas especiais e do nosso grupo da APLV e alergia alimentares. Mas a principal foi eu ter que me excluir de um convívio social com família e amigos, com certeza essa foi pior pra mim. As pessoas não têm conhecimento de uma alergia alimentar. Por motivos de segurança, até meu filho se estabilizar tive que passar por isso.

Depois, tive outras, como por exemplo, quando meu filho já tinha idade para querer alimentos fora de casa, em reuniões de família, ver priminho ou amiguinho comendo algo e não poder comer, eu ter que explicar que ele não podia comer pois faria dodói, isso me acaba por dentro, fico até emocionada de falar. Encontrar alimentos nos supermercados que fossem seguros de comer foi uma grande dificuldade. A inclusão em restaurantes, lugares públicos e até na família. Isso  também foi uma grande dificuldade.

Como foi lidar com os desafios da maternidade mais esse diagnóstico?

A maternidade por si só já é bem difícil, cheia de desafios, e quando tivemos o diagnóstico, as coisas ficaram um pouco mais difíceis, pois além de eu, mãe, ter de lidar com esse diagnóstico novo, nova vida, novo ciclo, exclusão, enfim, as dificuldades começaram em casa, com esposo, com a família. Ninguém acreditava direito nessa coisa de APLV, sabe, todos falavam: “Você tá procurando doença nesse menino”, “Você tem que dar leite de vaca para ele acostumar, pois ele para de ficar ruinzinho”, o famoso SÓ UM POUQUINHO não faz mal. Muitas vezes, tive que passar como doida para que eles respeitassem minha decisão ou algumas eu fingia a famosa demência (risos) ou me retirava e absorvia SOMENTE o necessário! Se não, ficamos doidas realmente (risos).

Por quanto tempo você teve que seguir essa dieta ?

Como eu amamentei meu filho até alcançarmos a cura dele, seguimos por 2 anos. Sim, 2 anos de muita luta. Fiquei em casa cuidando do meu filho, pois sabia que escola com inclusão é muito difícil. Até hoje ainda vejo dificuldades nessa inclusão. Mas também foram dois anos de muito aprendizado, conhecimento, mamães que muitas vezes têm muito mais conhecimento que um profissional e amigos que sentem empatia pelo próximo, isso com certeza não tem preço! Ah, virei uma chefe em alimentos sem os alergênicos que meu filho tinha (risos).

O que você gostaria de ter entendido no início da sua dieta e que pode ser usado com dica para as mães que começaram essa dieta recentemente?

Gostaria de ter entendido mais sobre os traços alimentares ou contaminação cruzada. Quando falo com uma mamãe que recebeu o diagnóstico recentemente, eu sempre falo para estudar um pouco mais sobre a contaminação cruzada. É muito importante, pois às vezes um bebê não se estabiliza pois existem alguns que reagem a essa contaminação. Nem todos profissionais entendem sobre tal assunto!

Bianca Kirschner,
Consultora de Viagens com Alergias Alimentares

Mãe de Lucas e Felipe,
é criadora e diretora
da plataforma Conexão Alimentar

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