Um desabafo sobre os riscos diários dos alérgicos alimentares

Bianca Kirschner

Ontem, fui surpreendida com uma notícia de Israel. Ainda não achei em português e compartilho com vocês alguns detalhes do post de @nonuts4me.

“Osher Deri, uma moça de 22 anos alérgica a leite, saiu com sua amiga Ella para comer no restaurante onde ambas já haviam trabalhado. Elas conheciam o menu, alguns atendentes e já haviam estado lá inúmeras vezes. O restaurante é kosher e, em lugares assim, carne e leite não podem ser misturados. Ou seja, num local kosher, não pode haver laticínios; sendo assim, é seguro para alérgicos a leite. De sobremesa, as amigas pediram o que já haviam comido outras vezes, um suflê de chocolate que é acompanhado de um creme, e imediatamente após comer Osher sentiu que havia leite no creme. Ella, sua amiga, logo chamou o atendente e absolutamente não poderia haver leite, pois o restaurante não usava laticínios.

Infelizmente, havia! Osher acabou indo para o hospital com sua amiga e veio a falecer alguns minutos depois.”

Não, não lemos notícias assim seguidamente, mas quando as lemos é um choque, é o famoso tapa na cara. Nos trazem à tona nossas dificuldades e nossa realidade.

Posteriormente, foi comunicado que no restaurante havia terminado os ingredientes do creme que acompanhava ao suflê de chocolate e foi substituído por um sorvete e que acidentalmente continha leite.

A população que convive com alergias alimentares e a que convive com alergias alimentares severas com risco de morte ainda é desconhecida. Somos minoria, não há números atuais que representam a nossa comunidade. Nossa comunidade, pois eu faço parte dela, minha família faz parte dessa comunidade. Não temos acesso ao único remédio, a caneta de adrenalina, que no caso de uma reação severa grave pode salvar a vida de um alérgico.

E mais, falamos com as famílias de alérgicos, com muitas mães, conversamos sobre os primeiros anos de vida dos alérgicos, mas venho aqui enfatizar que ainda pouco falamos e olhamos para os alérgicos que já passaram pela primeira infância. Para os alérgicos de quase 10, 15, 20 anos.

A notícia de Israel relata o medo de todos que convivem com as alergias alimentares de seus filhos. Hoje, estou aqui do lado do Lucas, o relembrando da caneta, de ler os rótulos, mas é assustador pensar que um dia eu não estarei do lado dele.

Quando comemos fora de casa, sempre corremos um risco, pois o alérgico muitas vezes não tem conhecimento de todos ingredientes usados. E sabe-se também que nesse episódio, o fato da vítima não estar com sua caneta de adrenalina, resultou numa reação alérgica fatal. Após o recente acidente fatal, um político israelense entrou com um projeto de lei para que todos os restaurantes tenham uma caneta de adrenalina como parte do requerimento para receber a licença para operar.

Por aqui, ainda temos um longo caminho! Precisamos de todos vocês para continuar nessa jornada de conscientização. Precisamos de rótulos claros, seriedade de restaurantes, uma associação multidisciplinar de profissionais que trabalham com alergias alimentares, acesso a caneta de adrenalina e material de educação e informação diretamente para os alérgicos.

Enquanto eu estiver ao lado do Lucas, ainda no comando, estarei dando a ele as ferramentas para evitar um episódio assim.  Mas meu filho esta crescendo, precisamos fortalecer nossas conexões e conto com todos vocês!

Fontes:

23-year-old dies from allergic reaction to whipped cream at meat restaurant | The Times of Israel

Bill: EpiPen in Every Restaurant After Shocking Death | Hamodia.com

Bianca Kirschner,
Consultora de Viagens com Alergias Alimentares

Mãe de Lucas e Felipe,
é criadora e diretora
da plataforma Conexão Alimentar

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